O drama humano pós-ciclone em Moçambique
19 de março de 2019
Guida António viu a sua casa desabar com um bebé de cinco dias no colo e agora enfrenta a fome num centro de acomodação improvisado em salas de aulas no bairro Trangapasso, arredores de Chimoio, na província moçambicana de Manica.
“Desde ontem ainda não comi, fui informada que a comida acabou”, disse Guida António nesta terça-feira, 19, salientando que tem dificuldades de amamentar o recém-nascido porque “sem comer não tem como dar leite”.
Ela é uma das centenas de pessoas desabrigadas na província de Manica, agora a encarrar fome, devido à escassez de assistência humanitária nos centros de acomodação, improvisados em escolas publicas.
Uma outra moradora contou que o desespero por falta de apoio alimentar tem aumentado a cada dia no centro de acomodação, em virtude de os únicos meios da sua sobrevivência terem ficado soterrados no desabamento da sua casa.
“Temos problema de comida”, precisou à VOA, Amina Zacarias, moçambicana com seis filhos no centro de acomodação, e que prefere que as autoridades distribuíam tendas para as famílias recomeçarem a “desenrascar” a vida nos bairros de origem.
Assistência demora a chegar
Entre prantos e crianças a definharem de fome, a população desabrigada nos centros de acomodação clama por uma assistência humanitária urgente, para poder enfrentar a crise da falta de alimentos.
“Estamos a sofrer com fome”, disse Maria Chuva, uma idosa que sustenta sozinha quatro netos, adiantando que “outros estão a recorrer à maçaroca”, mas por falta de dentes “eu já não consigo comer maçaroca”.
A primeira assistência às vitimas, contaram as fontes, chegou através da organização não governamental Save The Children, com alimento sobretudo para crianças, mas o donativo apenas cobriu dois dias.
Desde domingo, a organização está sem reabastecimento.
Isolamento impede chegada de ajuda
Por outro lado, vários camiões de ajuda da ONU estão sem acesso às zonas com maior número de necessitados devido aos cortes de estradas e desabamento de pontes.
Entretanto, por ser uma região politicamente favorável à oposição, os afectados acusam as autoridades de os estar a marginalizar nos apoios.
Com o isolamento da cidade da Beira, onde fica o principal porto para a região centro de Moçambique, e dos países do interior, os produtos importados, como trigo, combustível e arroz, começam a escassear nas cidades de Chimoio e outras regiões.
“As pessoas estão a tentar à sua maneira para conseguir comida”, explicou Carlos Zambo, um professor desabrigado pelo ciclone.
Zambo disse que as autoridades já encontraram um lugar para implantar um centro de acomodação para a população “desocupar as salas”, para que estas passem a acolher aulas, até agora paralisadas.
Pelo menos duas pontes desabaram e outras cinco estão submersas nos distritos de Sussundenga e Mossurize, em Manica.
O distrito do Mossurize está neste momento isolado do resto da província, sendo possível o seu contacto por terra apenas via Zimbabué.
O cinturão verde da cidade de Chimoio, que garante o sustento de centenas de famílias, através de produção de cerais e hortícolas, tem as culturas alagadas.
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- "Moçambique decreta alerta vermelho para o centro do país", Wikinotícias, 12 de março de 2019.
Fontes
- ((pt)) André Baptista. Moçambique: o drama humano pós-ciclone — Voz da América, 19 de março de 2019
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