Covid-19: no Brasil, STF determina que Anvisa explique suspensão da vacina chinesa
10 de novembro de 2020
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou ontem que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) preste, em 48 horas, informações sobre os critérios utilizados para proceder aos estudos e experimentos referentes à vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, e sobre o estágio de aprovação desta e das demais vacinas contra a Covid-19. A determinação levou em conta a recente decisão da agência, responsável pela concessão de registro dos imunizantes disponibilizados ou comercializados no País, de suspender os testes da vacina, conhecida como CoronaVac.
A decisão foi tomada nas Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPFs 754 e 756). O ministro, que também é relator de outras duas ações ajuizadas por partidos políticos sobre a vacinação da população contra a Covid-19, destacou o relevante interesse público e coletivo discutido nas ações e a disposição constitucional (artigo 196) de que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco à doença e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.
As ações foram ajuizadas depois que o presidente da República, Jair Bolsonaro, anunciou que a vacinação contra a Covid-19 não será obrigatória no Brasil e que o país não irá adquirir a CoronaVac. Entre os pedidos formulados estão o de que o STF fixe a orientação de que compete aos estados e aos municípios determinarem a realização compulsória de vacinação e outras medidas profiláticas no combate à pandemia da Covid-19 e de que o governo assine protocolo de intenção de compra da 46 milhões de doses da vacina, conforme anunciado pelo Ministério da Saúde.
Comitê Internacional se manifesta
A Anvisa informou que ontem à tarde deu entrada na Agência o documento emitido pelo Comitê Internacional Independente de análise do evento adverso grave não esperado relativo à vacina CoronaVac.
O documento está sob análise de um grupo da Agência. Este grupo acompanha e faz todas as análises do desenvolvimento de protocolos vacinais, sob a liderança da Gerência Geral de Medicamentos.
A manifestação do Comitê Internacional aconteceu no dia seguinte à suspensão dos estudos clínicos da vacina CoronaVac e imediatamente após entrevista coletiva à imprensa.
Entenda
Na segunda-feira a Anvisa emitiu uma nota onde anunciava a interrupção do estudo clínico da vacina CoronaVac devido a um "evento adverso grave". Segundo a Agência, o Instituto Butantan, que conduz os estudos no Brasil e que enviou os relatórios da vacina para análise, não deu explicações suficientes sobre este evcento e por isto houve a suspensão temporária.
Dimas Covas, presidente do Butantan, no entanto, nega que o "evento adverso" não tenha sido detalhado no relatório.
A politização das vacinas
Ontem, 10 de novembro, o presidente Jair Bolsonaro comemorou a interrupção dizendo que esta era "mais uma que Jair ganha", fala que foi condenada por políticos, inclusive da base aliada, cientistas e pela imprensa.
Bolsonaro acabou acusado de politizar a vacina, já que é oponente de Dória, governador de São Paulo, que já comprou milhões de doses da CoronaVac. Além disto, a vacina tem tecnologia chinesa, o que também não agrada o presidente.
Há cerca de 20 dias os dois já haviam tido um embate após o governador anunciar que a partir de dezembro a CoronaVac começaria a ser aplicada na população do estado. Bolsonaro, então, disse que a vacinação não seria obrigatória e que "não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem. Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina". Ele também chamou o imunizante de "a vacina chinesa de João Doria".
Segundo estudos iniciais, a CoronaVac é a que tem "melhor perfil de segurança" entre as que estão em teste no Brasil.
Vacinas em teste no Brasil
As vacinas para Covid-19 com autorização de pesquisa clínica no Brasil são:
- Oxford (AstraZeneca e Fiocruz)
- Coronavac (Sinovac e Butantan)
- Pfizer-Wyeth
- Janssen-Cilag (Johnson & Johnson)
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Fontes
- Morte de voluntário da vacina foi suicídio: mais uma que Bolsonaro perde, Notícias UOL, 10 de novembro de 2020.
- Anvisa deve informar, em 48 horas, motivação para a suspensão dos testes da CoronaVac, STF, 10 de novembro de 2020.
- Nota: Anvisa recebe informação de Comitê Internacional, Anvisa, 10 de novembro de 2020.
- Nota da Anvisa: vacina da Pfizer, Anvisa, 9 de novembro de 2020.
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