Secretária de Estado dos EUA Condoleezza Rice visita o Brasil

Fonte: Wikinotícias

Brasil • 26 de abril de 2005

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A secretária dos Estados Unidos da América, Condoleezza Rice, chegou terça-feira, 26 de abril, na Base Aérea de Brasília às 4 horas da manhã.

A viagem da secretária de Estado faz parte dessa política de melhorar as relações entre Brasil e Estados Unidos da América. Em junho de 2003, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos EUA George W. Bush assinaram em Washington uma declaração de intenções com a promessa de melhorar as relações diplomáticas entre os dois países. [1]

Encontro com o presidente do Brasil e o ministro das Relações Exteriores

A secretária de Estado Condoleezza Rice visitou a embaixada dos EUA no Brasil, encontrou-se com o ministro brasileiro das Relações Exteriores Celso Amorim e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo o ministro Amorim e a secretária Rice, ambos discutiram as relações diplomáticas entre EUA e Brasil; a Cúpula entre os países da América do Sul e os países árabes; a atuação brasileira no Haiti; Oriente Médio; Equador; e a estabilidade política e econômica na América do Sul. A secretária disse que os EUA prometem ficar atentos ao continente sulamericano e ajudar na garantia da estabilidade política e prosperidade econômica da região. A secretária mencionou também que os EUA irão continuar a trabalhar para promover a paz entre os palestinos e Israel. [2]

Segundo a agência de notícias do governo Radiobras, a secretária de Estado disse que o governo norte-americano apóia uma ampla reforma na ONU. Ela se mostrou favorável a mudanças no Conselho de Segurança das Nações Unidas, embora não tenha comentado sobre o desejo brasileiro de ocupar uma vaga permanente nele.

Segundo a Radiobras, a secretária de Estado dos EUA disse: "Queremos que a ONU seja a mais sólida possível, a combater armas de destruição em massa e o terrorismo, a lutar pela redução da pobreza e pela justiça social". O ministro Celso Amorim acrescentou que os países que ocupam vagas permanentes no Conselho de Segurança devem dar exemplo de disposição de combater o terrorismo e outros temas de fundamental importância para a manutenção da ordem mundial.

A secretária teve um encontrou de 30 minutos com o presidente brasilerio Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, segundo a Radiobras. De acordo com o porta-voz da Presidência da República, André Singer: "O presidente Lula reiterou o convite para que o presidente Bush visitasse o Brasil e a secretária de Estado disse que ele quer visitar o Brasil e está estudando a data mais conveniente para vir". Amorim disse que o governo norte-americano estuda marcar a viagem de Bush para novembro, quando ele participará da Cúpula das Américas a ser realizada na Argentina.

Sobre o encontro com o presidente brasileiro, o porta-voz disse que a secretária de Estado destacou a importância das relações entre o Brasil e os EUA, para o crescimento do comércio e consolidação da democracia no continente. Ela mencionou também a necessidade de uma ajuda conjunta ao continente africano.

Visita à embaixada americana no Brasil

A secretária de Estado Condoleezza Rice fez uma visita à embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil, onde discursou e encontrou-se com esportistas brasileiros. Ela assistiu a uma apresentação do Grupo de Capoeira "União de Capoeira do Distrito Federal".

Ela também encontrou-se com os jogadores da seleção brasileira de voleibol, Alexandre Samuel (Tande), Franco José Vieira Neto, e com crianças do projeto "Viva Vôlei", da cidade satélite de Ceilândia. Segundo a Radiobras, o projeto "Viva Vôlei" tem apoio da agência norte-americana de incentivo ao desenvolvimento internacional e atende a crianças de 7 a 14 anos de vários municípios brasileiros, com aulas de voleibol e atividades de socialização através do esporte. O projeto começou em 1999 pela Confederação Brasileira de Voleibol.

A secretária recebeu a ginasta brasileira campeã de ginástica solo em 2003, Daiane dos Santos, e recebeu como presente de Daiane um quadro da Copa do Mundo de Ginástica Olímpica.

Por fim, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, realizou uma palestra sobre a política externa norte-americana no Memorial JK, em Brasília.

Segundo a Radiobras, na quarta-feira, 27 de abril, no fim da manhã, a secretária de Estado Condoleezza Rice deixou Brasília e partiu com destino à Colômbia.

Assuntos discutidos no Brasil

A seguir vem um resumo dos principais assuntos comentados pela secretária de Estado dos Estados Unidos da América, Condoleezza Rice, em entrevistas e palestras, durante sua passagem pelo Brasil.

Haiti

Durante entrevista coletiva no Memorial Juscelino Kubitschek (JK), a secretária de Estado Condoleezza Rice disse que os EUA estão a gastar milhões de dólares para ajudar o Haiti. Ela também disse que o problema do Haiti é complicado e que por causa disso a solução é demorada. [3]

Cuba

Durante a palestra que fez no Memorial JK, a secretária enalteceu a importância da democracia. Ela disse que aqueles que estão do lado da liberdade têm uma obrigação com aqueles que ainda estão do lado errado.

A secretária fez uma crítica ao regime cubano ao dizer:"Até o presente dia, Cuba continua a demonstrar a verdade política universal: o abandono da regra da Justiça por parte dos governantes somente leva à opressão do povo inocente." [4]

Equador

Em entrevista para a repórter Giuliana Morrone, canal de televisão TV Globo, a secretária disse que os EUA estão dispostos a ajudar o Equador na manutenção do regime democrático. Em relação à decisão de asilo concedida pelo governo brasileiro ao ex-presidente equatoriano Lucio Gutiérrez, ela disse que a decisão foi uma escolha do governo brasileiro e que os EUA apreciam até agora o que o Brasil tem feito no que concerne à questão. [5]

Venezuela

Em entrevista para o canal de televisão TV Globo, a secretária Condoleezza Rice acrescentou que a preocupação dos EUA não é particularmente com o senhor Hugo Chávez, mas com o que está a acontecer na região, a interferência em assuntos de países vizinhos, e com o que está a ocorrer com as instituições democráticas da Venezuela. Segundo a secretária, o líder político que é eleito democraticamente tem a obrigação de governar democraticamente. [6]

Durante uma coletiva para a imprensa no Memorial JK, em resposta a uma pergunta sobre a possibilidade de o Brasil enviar representantes para intermediar o diálogo entre Washington e Caracas, a secretária disse que a Venezuela não precisa de intermediários para dialogar com a comunidade internacional ou latino-americana. [7]

A secretária demonstrou dúvidas quanto à liberdade da imprensa na Venezuela, o funcionamento do congresso e o fato de a oposição ter liberdade para criticar o governo. [8]

África

Em relação à África a secretária de Estado Condoleezza Rice disse que os EUA estão dispostos a ajudar e que têm contribuído muito. Todavia ela afirmou que apenas fornecer ajuda financeira não é suficiente e que é preciso garantir que o dinheiro seja usado sapiamente, de forma que os países se desenvolvam economicamente e não se tornem para sempre dependentes de ajuda externa. [9]

Cúpula América do Sul-Países Árabes

A secretária disse que os EUA desejam ver uma maior interação entre os países árabes com outras partes do mundo. Ela também disse que a região árabe precisa passar por reformas políticas, econômicas e sociais e que isso já foi reconhecido por intelectuais árabes. Ela disse que está contente em que haja essa conexão. A secretária disse que conversou com o ministro brasileiro sobre a importância da mensagem que é enviada com esse tipo de interação, e que haja o entendimento de que o mundo árabe está em transição e de que a reforma é um elemento importante dessa transição. [10]

ALCA

A secretária de Estado disse que considera a ALCA um acordo importante. Na opinião dela foram obtidos alguns avanços nas conversas que teve com as autoridades brasileiras. [11]

Ela também disse que não espera que a ALCA interfira em outros acordos de comércio que possam existir entre os países. A secretária afirmou que compreende o desejo brasileiro em ajudar na integração da comunidade sulamericana. Por causa disso, na visão dela a ALCA deve ser complementar e não competir com outros acordos comerciais.[12]

Conselho de Segurança da ONU

A secretária de Estado disse que a Organização das Nações Unidas (ONU) precisa de uma reforma e que o Conselho de Segurança das Nações Unidas também está sujeito a passar por modificações. Ela disse que os EUA estão a ouvir a opinião dos membros do Conselho de Segurança e de outros países. Ela não disse se os EUA apóiam ou não a candidatura do Brasil para o Conselho de Segurança, porém mencionou que o Brasil é uma força regional com crescente participação na esfera mundial e que os organismos internacionais precisam levar isso em conta.[13]

MST-FARC

Durante uma coletiva para a imprensa no Memorial JK, uma representante do Partido dos Trabalhadores quis saber a opinião da secretária sobre um fato recente, publicado em jornais brasileiros, a respeito de funcionários norte-americanos iniciarem uma pequena investigação sobre as ações do Movimento dos Sem Terra (MST) e o alegado relacionamento entre o movimento do MST e as FARC. A secretária disse que desconhecia o assunto, e que confia no trabalho brasileiro de combate ao terrorismo e narco-tráfico. [14]

Contexto econômico e geopolítico

Mapa do Brasil.

Segundo o livro CIA - The World Factbook o Brasil possui uma grande área para cultivo agrícola. O território brasileiro conta com recursos minerais de importância econômica, o país é industrializado, a economia brasileira se destaca sobre as outras economias da América do Sul e está a se expandir. De 2001 a 2003 a economia brasileira cresceu em média 1,1% e o país suportou bem vários reveses na economia local e mundial. Foi importante para o fortalecimento da economia o programa econômico colocado em execução durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e mantido pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Brasil utiliza a tecnologia nuclear para fins pacíficos e recentemente está em discussão uma expansão no programa nuclear brasileiro, com a construção de uma terceira usina nuclear em Angra dos Reis, a Angra-3.

O atual presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva pertence ao Partido dos Trabalhadores (PT). O partido experimentou um crescimento na preferência popular nos últimos anos e conquistou muitos cargos públicos nos poderes legislativo e executivo.

A política externa brasileira do atual governo estreitou laços políticos, econômicos e diplomáticos com Cuba, Venezuela e China. O Brasil assinou vários acordos de cooperação cultural e econômica com Cuba, além de cooperação na área de segurança e serviço de inteligência da Abin. Recentemente o Brasil assinou um tratado de cooperação econômica e militar com a Venezuela.

O presidente brasileiro durante encontro que teve com os presidentes da Espanha, Colômbia e Venezuela, criticou o governo dos Estados Unidos da América, indiretamente, pelo fato de ele ter criticado a situação política na Venezuela, em particular o rearmamento do país e a alegada ameaça para a estabilidade na região.

O país busca uma maior aproximação com países do continente africano e do Oriente Médio. Recentemente o presidente brasileiro realizou uma viagem por países africanos. O governo brasileiro planeja sediar em maio um encontro de cúpula entre países da América do Sul e árabes.

O presidente brasileiro preside o Foro de São Paulo, organização que reúne partidos de esquerda de países da América Latina, entre eles: Cuba e Venezuela. Organizações militares como as FARC, a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, a Unidad Revolucionaria Nacional Guatemalteca, a Frente Sandinista de Libertação Nacional e os Tupamaro regularmente participam das reuniões do grupo.

A posição do Brasil em relação à ALCA é dúbia. O ministro das Relações Exteriores disse que a ALCA faz parte da pauta do governo brasileiro, entretanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em algumas ocasiões deu sinais de que pretende deixar a ALCA pelo menos em segundo plano.

O governo brasileiro é crítico da atuação do governo dos Estados Unidos da América no mundo e foi contra a guerra no Iraque.

O Brasil lidera as forças de paz da ONU, na manutenção da segurança no Haiti, que passa por um momento de grave instabilidade social e política. O Brasil também almeja ter uma cadeira no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O Brasil aparentemente mantém boas relações diplomáticas com todos os países da América Latina. Em relação à Colômbia o Brasil oficialmente defende uma solução pacífica para o conflito. O Brasil não reconhece as FARC como movimento terrorista, porque alega que assim pode funcionar como mediador.

Problemas domésticos

O Brasil é um país que enfrenta problemas relacionados à violência urbana, principalmente na região metropolitana do Rio de janeiro.

Há conflitos de terra e protestos de organizações como o Movimento dos Sem Terra (MST), Movimento de Libertação dos Sem Terra e o Movimento dos Sem Teto. Na região norte do país há conflitos de terra e disputa pela exploração da madeira.

A região da fronteira tríplice com Argentina e Paraguai é motivo de preocupação pois é alegadamente uma região onde ocorrem sérias atividades ilegais, entre elas: a lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e armas e operações de financiamento para grupos extremistas. [15]

Ver também

Fontes