Portugal Telecom envolvida no escândalo brasileiro
Brasil • 3 de agosto de 2005
Durante sessão do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados do Brasil, o deputado Roberto Jefferson disse que no final de janeiro de 2005, emissários do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foram à Portugal para pedir dinheiro à Portugal Telecom.
Roberto Jefferson disse que quando José Dirceu era Ministro da Casa Civil, ele ajudou um grupo da Portugal Telecom a encontrar-se com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais tarde, segundo Jefferson, Dirceu teria dito para o PTB e o PT enviarem emissários à Portugal Telecom, em Portugal, para pedir dinheiro que seria usado no pagamento das dívidas dos dois partidos.
A Presidência da República do Brasil, o ex-Ministro José Dirceu e a Portugal Telecom negaram as acusações feitas por Jefferson. Segundo nota emitida pela Presidência da República: "em nenhum momento foi tratado qualquer assunto que não se referisse aos empreendimentos da companhia portuguesa no País".
A agenda da Presidência da República do Brasil mostra que nos dias 21 de janeiro de 2003 e em 19 de outubro de 2004, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, em audiência no Palácio do Planalto, o Presidente da Portugal Telecom, Miguel Antônio Igrejas Horta Costa.
O empresário brasileiro Marcos Valério (envolvido no "mensalão") admitiu ontem à noite (2) que viajou para Portugal em janeiro deste ano e que conversou com diretores da Portugal Telecom. Valério também disse que Emerson Palmieri, tesoureiro informal do PTB, viajou com ele. Valério, contudo, negou que viajara para tratar sobre ajuda financeira a partidos políticos. Segundo ele, o objetivo da viagem foi negociar a continuidade da conta de publicidade da sua agência de publicidade com a Telemig Celular. Sobre Palmieri, Valério alegou que o integrante do PTB era apenas "seu amigo" e que foi à Portugal "a passeio" porque estava "estressado".
Segundo a Agência Brasil, Valério disse: Nós temos que deixar claro uma coisa. Eu não sou representante de ninguém. Eu não sou lobbista. Não sou representante do PT [Partido dos Trabalhadores]. E o PT [Partido dos Trabalhadores] deve ter representante dele para isso. Eu fui exclusivamente para isso [negociar sua conta de publicidade da Telemig Celular].
Portugal Telecom se manifesta
A Portugal Telecom emitiu uma nota em que afirma que encontrou-se com o empresário Marcos Valério, mas que nunca foram discutidos assuntos sobre financiamentos de partidos políticos brasileiros. A empresa também nega que encontrou-se com Marcos Valério de Souza e Emerson Palmieri nos dias 24, 25 e 26 de janeiro de 2005, em Lisboa.
Segue abaixo a íntegra da nota:
Por respeito aos nossos milhões de clientes em todo o mundo, aos milhares de colaboradores, aos nossos acionistas, o Grupo Portugal Telecom vem a público prestar os seguintes esclarecimentos:
1. A Portugal Telecom é o maior grupo privado português, as suas acções são cotadas na Bolsa de Lisboa e de Nova York (NYSE). É o maior investidor de Portugal no Brasil, tendo investido mais de US$ 7 mil milhões nos últimos seis anos no mercado brasileiro, primordialmente na joint venture Vivo, líder do sector móvel.
2. A Portugal Telecom orgulha-se de ser um exemplo de cultura empresarial tanto em Portugal como no Brasil, assim como nos outros países em que está presente, agindo sempre e em qualquer circunstância de forma ética e com absoluta transparência em todas as suas iniciativas. A adopção de uma política corporativa baseada em princípios éticos é resultante do compromisso assumido por todos os colaboradores do Grupo, que seguem um conjunto de regras e princípios de conduta consubstanciando um padrão rígido de comportamento irrepreensível.
3. Por força das suas atividades empresariais, a Portugal Telecom mantém de forma sistemática contactos institucionais com os diferentes segmentos da sociedade brasileira - autoridades governamentais, líderes empresariais e membros da sociedade em geral. Dentro dessa política, a Portugal Telecom foi recebida oficialmente por duas vezes em audiência por Sua Excelência o Sr. Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, com o objectivo de comunicar novos investimentos realizados no Brasil.
4. A Portugal Telecom manteve contactos com o Sr. Marcos Valério de Souza que nos contactou no contexto da Portugal Telecom estar potencialmente interessada na aquisição da Telemig.
5. A Portugal Telecom nega de forma categórica e veemente que tenha mantido reuniões ou qualquer tipo de contacto com os senhores Marcos Valério de Souza e Emerson Palmieri nos dias 24, 25 e 26 de janeiro de 2005, em Lisboa.
6. A Portugal Telecom assegura que nunca participou de qualquer encontro com o objectivo de discutir ou negociar operações que envolvessem o financiamento de partidos políticos brasileiros.
7. O Grupo Portugal Telecom coloca-se à disposição das autoridades brasileiras para prestar todos os esclarecimentos necessários, visando eliminar quaisquer dúvidas que possam persistir.
Ver também
Fontes
- Adriana Franzin. Valério diz que foi a Portugal negociar publicidade com empresa de telefonia — Agência Brasil, 3 de agosto de 2005
- Paulo de Tarso Lyra. Valério confirma encontro com presidente da PT Telecom [inativa] — Jornal do Brasil, 3 de agosto de 2005. Página visitada em 3 de agosto de 2005
. Arquivada em 8 de julho de 2006
- Jair Rattner. Portugal Telecom diz que foi procurada por Marcos Valério — O Estado de São Paulo, 3 de agosto de 2005
- Rosana de Cassia. Presidência da República nega acordo com a PT Telecom — O Estado de São Paulo, 3 de agosto de 2005
- Portugal Telecom nega reuniões com Valério e Palmieri em Lisboa — Folha de São Paulo, 3 de agosto de 2005
- Rose Anne Silveira. Jefferson dispara contra José Dirceu e envolve Lula — Folha de São Paulo, 3 de agosto de 2005
- Anabela Campos, Manuel Carvalho. Portugal Telecom envolvida no escândalo do financiamento partidário no Brasil — Público, 3 de agosto de 2005
- Nelson Motta. Portugal Telecom quer dobrar número de clientes no Brasil — Agência Brasil, 11 de julho de 2003
- Marcos Chagas. Governo considera aquisição da TCO prova de confiança no País — Agência Brasil, 21 de janeiro de 2003