Secretária de Estado dos EUA Condoleezza Rice visita a Colômbia
Colômbia • 30 de abril de 2005
A secretária de Estado dos Estados Unidos da América, Condoleezza Rice, chegou quarta-feira, 27 de abril, no aeroporto militar de Catam, na Colômbia. Um forte esquema de segurança foi montado para proteger a secretária.
A secretária foi recebida pelo embaixador dos EUA na Colômbia William Wood e pelo vice-chanceler Camilo Reyes.
Encontro com o presidente da Colômbia e a ministra das Relações Exteriores
A secretária de Estado Condoleezza Rice encontrou-se com a ministra colombiana das Relações Exteriores Carolina Barco e o presidente colombiano Álvaro Uribe Vélez.
Segundo a Rádio Caracol, da Colômbia, o presidente Uribe disse:Nós temos uma aliança profunda com os Estados Unidos, aberta, proveitosa, é de muito agrado esta aliança, e essa aliança não se opõe a buscar alianças com todos os países do mundo, com todos os povos do mundo, com todos nossos vizinhos e por causa disso antes de negociar o Tratado de Livre Comércio, já tinha negociado com a Comunidade Andina e o Mercosul. [1]
Segundo a ministra Carolina Barco, foi discutida a situação da segurança. Ela mencionou que é muito importante a ajuda de apoio dos EUA para reduzir o número de homicídios, seqüestros, massacres e outros atos violentos na Colômbia.
A ministra disse que pediu ajuda americana para a reintegração dos membros dos movimentos paramilitares e das guerrilhas. Ela contou que já houve a desmobilização de 12 mil pessoas e que cerca de 50% delas são da guerrilha, e outras 50% de grupos paramilitares. A ministra Barco disse que é necessário ajuda para reintegrar essas pessoas na sociedade, que elas precisam de apoio psicológico e treinamento para aprender uma profissão.
Segundo a ministra, também discutiu-se a área de livre comércio e sua importância para combater o tráfico de drogas e gerar empregos na Colômbia.
A secretária de Estado dos EUA elogiou o trabalho do presidente Uribe e o restabelecimento da presença do governo em todos os municípios colombianos, em substituição ao governo da guerrilha e dos grupos paramilitares. Ela também elogiou os esforços para avançar nas negociações com os paramilitares e a iniciativa de começar a falar com o Exército de Libertação Nacional (ELN). A secretária acrescentou que em 2005 serão fornecidos mais de 600 milhões de dólares à Colômbia para combater o terrorismo e o tráfico de drogas. [2]
Quinta-feira, 28 de abril, a secretária de Estado Condoleezza Rice encerrou sua visita à Colômbia e embarcou para o Chile.
Assuntos discutidos na Colômbia
A secretária de Estado dos EUA Condoleezza Rice e a Ministra das Relações Exteriores da Colômbia Carolina Barco concederam entrevista coletiva para a imprensa. Segue abaixo um resumo dos principais tópicos abordados nesta e em outras entrevistas feitas na Colômbia. [3]
Venezuela
Sobre a compra de armas pela Venezuela, a ministra colombiana das Relações Exteriores Carolina Barco disse que a decisão compete ao governo venezuelano e que as armas devem ser usadas para legítima defesa. Ela contou que o presidente da Venezuela Hugo Chávez disse que precisava substituir o arsenal de armas e que elas seriam usadas para combater o tráfico de drogas e controlar a fronteira. Ela também disse que é necessário garantir que as armas sejam usadas para um bom propósito e que elas não devem parar em mãos erradas, a fim de gerar mais violência.
A secretária de Estado dos EUA Condoleezza Rice disse que os EUA têm preocupação em manter a estabilidade da região. Ela disse que o problema com armas menores é que elas podem parar em mão erradas e que esse tema precisa ser mais explorado.
Em relação à Venezuela, a secretária frisou que os EUA têm historicamente uma boa relação com o país e que desejam que isso continue.
A secretária disse que as preocupações do governo americano com a Venezuela são bem conhecidas, que as atividades do governo venezuelano podem ter influência desestabilizadora na região e que o comportamento do governo venezuelano com suas questões caseiras levantam dúvidas a respeito de seu comprometimento com a democracia. Ela afirmou que os EUA querem transparência, responsabilidade e respeito às instituições democráticas. Os EUA querem uma imprensa livre e garantias para a oposição, ONGs, Igreja e sindicatos independentes. Ela acrescentou que os EUA desejam que sejam respeitados os acordos da Carta Democrática da OEA.
Contudo, a secretária disse que o objetivo principal da viagem não é a Venezuela, mas discutir o futuro do hemisfério, e sobre o que contribui ou não para a criação do hemisfério desejado, com livre comércio, desenvolvimento econômico, responsabilidade com o povo, e retirada de pessoas da marginalidade. Ela disse que os EUA têm uma agenda positiva para o hemisfério e que aquele que compartilhar dessa visão terá um amigo nos EUA. [4]
Conflito Venezuela X Colômbia
Numa entrevista para o jornal El Tiempo, o repórter Luis Carlos Velez perguntou à secretária Condoleezza Rice se os EUA temem um conflito entre a Venezuela e Colômbia, principalmente após a compra de 100 mil rifles russos. A secretária respondeu que acredita em governos eleitos democraticamente e que governam de forma democrática. Ela disse que isto está bastante claro na Colômbia, mas que é incerto na Venezuela. A secretária disse que acredita numa agenda positiva para trazer estabilidade e desenvolvimento econômico para a região. [5]
Movimento anti-americano venezuelano
O repórter Luis Carlos Velez, durante uma entrevista para o jornal El Tiempo perguntou à secretária se os EUA irão fazer alguma coisa para impedir os movimentos anti-americanos que Hugo Chávez está a promover na Venezuela. A secretária disse que os EUA não têm nenhum problema com o povo venezuelano. Os EUA apenas vêem com receio a relação do regime venezuelano com a imprensa e grupos de oposição, e a interferência externa dele na região.
Ela disse a questão é o tipo de hemisfério que irá se formar, e que os EUA irão buscar apoio para que ele seja próspero, democrático, e lute contra o tráfico de drogas e o terrorismo. [6]
Crescimento da esquerda
O repórter Luis Carlos Velez comentou que as esquerdas cresceram na América do Sul e perguntou à secretária, se por acaso os países sulamericanos já não estariam cansados do modelo americano. Condoleezza Rice disse que os EUA não têm nenhum problema em manter boas relações com governos de esquerda desde que eles sejam eleitos e governem democraticamente, não sejam corruptos e procurem satisfazer as necessidades do povo.
A secretária comentou que há locais em que a população está em busca de soluções fáceis, e recorrendo a um populismo falso. [7]
Extradição
A Ministra Carolina Barco da Colômbia disse que o governo não deseja que traficantes de drogas tomem parte no processo de paz. Ela disse que é necessário diferenciar os membros de grupos paramilitares de auto-defesa que desejam participar do processo de paz, de pessoas que dizem querer participar do processo, mas que são traficantes.
A secretária de Estado dos EUA disse que o governo americano tem interesse na extradição, mas que isso depende do funcionamento do governo da Colômbia.
Americanos seqüestrados pelas FARC
Em relação aos americanos seqüestrados pelas FARC, a secretária disse que o governo americano está a trabalhar e que é alta prioridade dele ter essas pessoas de volta, e que para isso conta com a colaboração do governo colombiano.
Estratégia americana de combate às drogas
Um repórter do jornal New York Times perguntou se a estratégia americana de combate às drogas não deveria mudar, porque o consumo de drogas aumentou nos EUA, apesar dos esforços do governo americano em combater a produção.
A secretária de Estado Condoleezza Rice disse que com a ajuda dos EUA, o governo da Colômbia foi capaz de capturar muito mais traficantes, que foram realizadas importantes extradições, e que hoje a polícia colombiana é capaz de entrar em localidades que não podiam entrar anos atrás, porque eram controladas por traficantes. Por causa disso, segundo a secretária, é errado achar que a estratégia americana não deu bons resultados.
A secretária disse que o governo americano precisa trabalhar no problema do consumo das drogas, mas que deve continuar também a combater a produção, a diminuir as plantações de drogas e a restaurar a democracia. Ela disse que o governo pretende atacar os dois problemas: produção e consumo.
Contexto econômico e geopolítico
300px|left|thumb|Mapa da Colômbia. Segundo o livro CIA - The World Factbook a economia da Colômbia passa por um processo de recuperação apesar dos problemas causados pelo conflito armado. Favoreceu a melhoria da economia a austera política do governo em relação aos gastos públicos e o estímulo às exportações. Alguns dos principais problemas da economia colombiana são relacionados à reforma do sistema previdenciário e à redução do nível de desemprego. Café e petróleo lideram as exportações colombianas, porém não se sabe por quanto tempo. A produção de petróleo está em queda o que obriga mais investimentos na exploração, e as colheitas e o preço do café estão em declínio. Todavia, as reformas econômicas promovidas pelo presidente Uribe e a política de segurança trouxe um sentimento de maior confiança em relação ao país por parte de instituições financeiras e do setor de negócios. [8]
O presidente Álvaro Uribe Vélez foi eleito para o período 2002-2006 com 53% dos votos válidos.
Os dois maiores grupos rebeldes da Colômbia em atividade são as Forças Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o Exército de Libertação Nacional(ELN). Ambos são de inspiração marxista-leninista e procuram implantar um regime comunista na Colômbia. Para lutar contra essas duas forças e ameaçar o domínio delas sobre o território colombiano, há o grupo paramilitar anti-comunista chamado Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), que também é considerado ilegal. Apesar da capacidade militar dos exércitos de esquerda das FARC e ELN, eles não têm a maioria do apoio popular para poder derrubar o governo.
O país é o maior produtor mundial de coca e um potencial produtor de ópio. Ambos os cultivos estão em declínio. A Colômbia é o maior produtor de cocaína a partir da coca e responsável pelo fornecimento de 90% da cocaína que entra no mercado dos EUA além de ser um grande fornecedor para outros mercados mundiais. A Colômbia é também importante fornecedor de ópio para o mercado americano.
Autoridades internacionais dizem que as FARC usam seqüestros e o tráfico de drogas como fontes de recursos para a guerrilha. Um relatório do governo colombiano divulgado pela Radio Caracol em 21 de janeiro de 2005 informa que a maior parte dos recursos das FARC vêm do comércio com as drogas, seguido da extorsão e seqüestro. [9]
As FARC procuram expandir sua zona de influência através de outros países da América Latina. Um relatório do governo colombiano informa que as FARC gastam 476 milhões de pesos por ano em atividades em países estrangeiros.
Em 13 de dezembro de 2004, a prisão do membro das FARC Rodrigo Granda trouxe tensão nas relações diplomáticas entre Venezuela e Colômbia. A Colômbia acusou a Venezuela de proteger guerrilheiros das FARC enquanto que a Venezuela disse que a Colômbia estava interferindo na soberania venezuelana. As relações entre os dois países continuaram bastante tensas e só diminuíram após a intervenção do presidente de Cuba, Fidel Castro. [10]
Os grandes gastos militares da Venezuela e a militarização do país trazem preocupação para algumas autoridades colombianas, como, por exemplo, o Ministro de Defesa colombiano, Jorge Alberto Uribe. Existe um receio de que parte das armas compradas pela Venezuela vá parar nas mãos das FARC ou ELN. [11]
O apoio do governo dos Estados Unidos da América é considerado pela ministra colombiana das Relações Exteriores Carolina Barco, como de muita importância para o combater os grupos guerrilheiros e o narcotráfico. [12]
Ver também
Fontes
- Condoleezza Rice encerra visita a Bogotá e embarca para o Chile — EFE, 28 de abril de 2005
- Remarks with Colombian Foreign Minister Carolina Barco, Casa de Narino, Bogotá, Colombia, 27 de abril de 2005
- CIA - The World Factbook - Colombia
- Condoleezza Rice llegó a Colombia y se encuentra reunida con el presidente Uribe — Caracol, 27 de abril de 2005