Crise econômica na China e eleições nos EUA podem ter impacto no Brasil
3 de outubro de 2024
A China acaba de anunciar um novo pacote de estímulo econômico, buscando recuperar o crescimento do PIB, que caiu para menos de 5% após a pandemia. As autoridades chinesas expressam preocupação em garantir que a economia cresça pelo menos 5% até o final de 2024, dado que a performance da segunda maior economia do mundo impacta diretamente o cenário global, inclusive o Brasil. O professor Paulo Roberto Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, comenta: “É interessante, a China 15 anos atrás, mais ou menos, crescia a taxas de 15% ao ano, quando crescia pouco, aí ela mudou de patamar e foi diminuindo o ritmo de crescimento e chegou agora a menos de 5%. Para eles isso é preocupante, eles estão num ponto em que sabem que aqueles tempos maravilhosos com taxas muito maiores não voltarão e estão agora enfrentando diversas crises que complicam a economia e que são crises do crescimento” , afirma.
Conforme aponta Feldmann, “eles mudaram de patamar e agora enfrentam crises internas”. O professor explica que a construção excessiva de imóveis, impulsionada pela migração rural para as cidades, gerou uma oferta desproporcional de apartamentos, levando a uma crise imobiliária semelhante àquela que abalou os Estados Unidos em 2007. “As construtoras tomaram empréstimos, mas agora não conseguem vender os imóveis”, explica Feldmann. Além da crise imobiliária, a taxa de desemprego entre os jovens na China está alarmante, com cerca de 20% sem emprego. “Esse é um dado preocupante, pois é nessa fase que o jovem inicia sua vida profissional”, ressalta o professor. Ele alerta que as estatísticas da China, muitas vezes, carecem de confiabilidade, o que agrava a incerteza sobre a real situação econômica do país.
Influência das diferentes políticas Simultaneamente, os Estados Unidos se preparam para eleições que poderão alterar o cenário econômico global. A disputa entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump promete trazer diferenças significativas nas políticas comerciais e fiscais. Feldmann observa: “Dependendo de quem vencer a eleição, nós poderemos ter grandes mudanças na economia, essa é uma questão que também tem que nos preocupar a nós, brasileiros. Os Estados Unidos têm se transformado nesses últimos anos, tanto com o Trump como com o Biden, num país altamente protecionista, porque antes os Estados Unidos eram o grande defensor do modelo liberal de livre importações”, ressalta.
O professor enfatiza a importância das políticas ambientais no contexto eleitoral americano, afirmando que “a sobrevivência do planeta está em jogo”. Com a crescente proteção comercial dos Estados Unidos desde a era Trump, Feldmann aponta que essa mudança pode estabilizar a globalização, que já vinha enfrentando dificuldades. “Os índices de comércio internacional estão em xeque e a eleição pode ser um divisor de águas nesse aspecto”, explica.
Os impactos dessa dinâmica são diretos para o Brasil, que depende tanto da China quanto dos EUA como principais parceiros comerciais. Feldmann destaca que “a China compra cerca de 30% do que o Brasil exporta” e qualquer redução na demanda chinesa pode prejudicar a economia brasileira. “Estamos em uma situação desconfortável, já que nossos dois principais clientes enfrentam problemas”, alerta.
Enquanto isso, a falta de planejamento a longo prazo no Brasil se torna evidente. O professor critica a obsessão do País por superávit ou déficit fiscal, que, segundo ele, desvia o foco das questões mais importantes. “Estamos perdendo tempo discutindo se teremos um déficit de 2% ou um superávit de 2%, enquanto não falamos sobre as indústrias do futuro e as profissões que vão surgir. Enquanto China e EUA estão planejando seus futuros, nós estamos apenas tentando fechar contas. Precisamos urgentemente de uma visão estratégica para o desenvolvimento”, finaliza.
Fontes
[editar | editar código-fonte]- ((pt)) Denis Pacheco. Crise econômica na China e eleições nos EUA podem ter impacto no Brasil — Jornal da USP, 2 de outubro de 2024
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