Contradições e poucas novidades em acareação dos principais envolvidos no mensalão
Brasil • 29 de outubro de 2005
Quinta-feira (27), a CPI da Compra de Votos, também conhecida como CPI do Mensalão, promoveu a acareação entre as principais pessoas envolvidas no escândalo conhecido como mensalão. Estiveram presentes: o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) Delúbio Soares, o empresário Marcos Valério, a diretora financeira da agência de publicidade SMPB Simone Vasconcellos e o ex-deputado e Presidente do Partido Liberal (PL) Valdemar Costa Neto. Os testemunhos foram contraditórios e não trouxeram muitas novidades além daquelas que já foram publicadas pela imprensa.
Tanto Delúbio (que depôs protegido por um habeas corpus) quanto Valério, Costa Neto e Simone Vasconcelos disseram que houve transferência irregular de recursos financeiros para políticos brasileiros. Contudo, eles discordaram quanto ao valor total transferido para o Partido Liberal (PL).
O Presidente do PL Valdemar Costa Neto disse que recebeu através do esquema de Marcos Valério a quantia de R$ 6,5 milhões, embora o ex-tesoureiro Delúbio Soares tivesse lhe prometido R$ 12 milhões. Marcos Valério disse que distribuiu R$ 10,8 milhões.
Delúbio disse que autorizou o repasse de R$ 12 milhões: "Nós autorizamos em torno de R$ 12 milhões, em números gerais, ao PL, né. Então teve - está na lista do senhor Macros Valério a quantia que tá; a gente já explicou - ao senhor Valdemar mas também a outros companheiros do PL, né. Que tava [estavam] na mesma lista, que foi [foram] o Bispo Rodrigues e o Zé Luiz (que tá na lista também), que são membros do PL. Então foram autorizados esse montante. Agora, como foi feito, como foi repassado, aí o senhor Marcos Valério e a Simone já explicaram".
Simone Vasconcellos disse que nunca se encontrou com Valdemar Costa Neto pessoalmente e que o contacto dela com o PL era o senhor Jacinto Lamas. Ela disse que entregou o dinheiro para Jacinto em diversas ocasiões e em vários lugares: na agência do Banco Rural, em Brasília, em Belo Horizonte quando ele recebeu cheques nominais da Guaranhuns, na sede da SMPB em Brasília e uma única vez num hotel, no Grand Bittar Hotel, no centro de Brasília.
Valdemar Costa Neto disse, como já declarara em outra ocasião, que usou o dinheiro de Marcos Valério para saldar as dívidas da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
O deputado Moroni Torgan (PFL|-Ceará) lembrou que deputados estão a ser processados pelo crime de usar dinheiro não declarado ("caixa dois", no Brasil) e que se não seria hora de processar também o Presidente da República pelo mesmo crime.
O Senador Sibá Machado (PT-Acre) disse que a situação é diferente porque Lula não sabia que sua campanha estava a ser financiada com dinheiro irregular.
Marcos Valério também disse que está correta a lista entregue à CPI com os nomes dos beneficiados com dinheiro das contas de suas empresas. Entre os beneficiados estão políticos e pessoas com algum vínculo com políticos, como parentes e assessores. Os valores que foram repassados e que constam na lista totalizam R$ 55,8 milhões, valor confirmado pelo empresário.
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Fontes
- Acareação não tira dúvidas sobre repasses do "valerioduto" — Jornal do Senado (Brasil), 28 de outubro de 2005