Abin: nenhuma prova sobre doação das FARC ao PT
Brasil • 20 de março de 2005
O ministro chefe do gabinete de segurança, o general Jorge Félix, e o diretor do serviço brasileiro de inteligência (Abin) Mauro Marcelo de Lima e Silva, dizem que os documentos mencionados pela revista brasileira Veja podem estar incorretos. Semana passada, Veja reportou que o Partido dos Trabalhadores (PT), o partido do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu 5 milhões de dólares das FARC para a campanha de 2002. A revista usou documentos retirados da própria Abin como fonte da reportagem.
Félix testemunhou perante uma comissão de deputados e senadores para explicar as alegações publicada por Veja. Suas declarações tornam remota as chances de criação de uma comissão de investigação, conforme tinha sido sugerido pelo deputado Alberto Fraga (PTB). O líder do governo, Aloísio Mercadante disse que o PT irá processar Fraga por difamação e que ele considera o caso encerrado.
A versão oficial da Abin diz que a agência armazena em seus arquivos todos os tipos de dados coletados pelo serviço de inteligência. Até mesmo dados que não satisfazem os critérios da Abin para consistência e veracidade permanecem nos arquivos para que possam ser reavaliados no futuro. Segundo Félix, os arquivos da Abin podem ter dados que não são relevantes, tendenciosos ou até mesmo completamente falsos. Os documentos mencionados pela revista Veja pertencem a este tipo de material. Como a Abin não pode garantir a veracidade dos dados, eles não poderiam nunca ter sido relatados pela revista.
A revista Veja foi muito cuidadosa ao reportar a história. O artigo diz que eles não encontraram nenhuma evidência sólida para provar que o PT recebeu dinheiro das FARC. Veja investigou os fatos e admitiu que as doações poderiam não ter ocorrido:
- Veja localizou o agente da Abin que se infiltrou na reunião das Farc e ouviu outros dois funcionários da agência que tiveram contato com a investigação, além de procurar os esquerdistas que foram ao encontro. A apuração comprovou a reunião, o local, a data e os personagens. Só não encontrou indícios suficientemente sólidos de que os 5 milhões de dólares tenham realmente saído das Farc e chegado aos cofres do PT.(...)Pode ter sido apenas uma bravata do padre Olivério Medina [representante das FARC] (...) para alegrar seus convivas esquerdistas? Pode. — Veja , "Os Tentáculos das FARC no Brasil", 16 de março de 2005, página 46.
Apesar de não ter sido encontrada alguma prova relacionada à doação financeira, e apesar de admitir que os documentos da Abin poderiam não ser verdadeiros, Veja disse que eles aparentavam ter consistência suficiente para serem enviados ao Presidente:
- Os documentos arquivados na Abin, sucessora do velho SNI do regime militar, são célebres por seus erros e equívocos, motivados em geral pela paranóia anticomunista de seus agentes na época da ditadura. Os papéis que relatam a transação em que as Farc prometem ajuda financeira a candidatos esquerdistas no Brasil também não são imunes a erros. A trajetória dos papéis na hierarquia do serviço de inteligência, sugere, porém que as informações partiram de um espião experiente que gozava da confiança de seus superiores. Os documentos mostram que as informações ali contidas foram checadas com afinco. — Veja , "Os Tentáculos das FARC no Brasil", 16 de março de 2005, página 49
Alguns deputados exigem que haja mais investigações. O deputado brasileiro Arthur Virgílio (PSDB) disse: "A investigação não pode parar. O governo deve ter todo o interesse em dar os esclarecimentos necessários, assim como cabe ao deputado Fraga apresentar o quanto antes as provas de que afirma dispor." O deputado Antero Paes de Barros (PSDB) disse:"Há necessidade de mais esclarecimentos, porque o interesse de Estado no caso é alto".
As FARC e o PT fazem parte do Foro de São Paulo, organização criada pelo presidente cubano Fidel Castro e por Luiz Inácio Lula da Silva para discutir estratégias para a esquerna na América Latina, depois da queda do muro de Berlim e colapso do Comunismo no Leste Europeu.
O PT admite que alguns de seus membros já encontraram-se com integrantes das FARC no passado, mas sustenta que a notícia de que receberam dinheiro das FARC não é verdadeira. O partido disse que caso saiba de alguma evidência mostrando que algum de seus membros recebeu dinheiro das FARC, ele será imediatamente expulso do partido. O PT também afirma que se a doação de fato tivesse ocorrido, ela estaria nos registros do Banco Central, e isto não acontece. O PT acredita que as acusações contra o partido fazem parte de alguma estratégia de propaganda negativa por parte de grupos políticos de oposição.
Segundo o presidente da comissão da junta do congresso para o controle das atividades de inteligência, Senador Cristovam Buarque (PT-DF), a investigação está encerrada. O senador disse que são parte de um episódio triste as acusações sem provas contra a credibilidade de um partido.
Entendendo o caso
O que Veja diz |
O que Abin diz |
O que o PT diz |
O que é verdade |
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Ver também
Referências
- Policarpo Junior. Os tentáculos das FARC no Brasil - As explosivas ligações de petistas com as Farc [inativa] — Veja, March 16, 2005. Página visitada em 20 de março de 2005
. Arquivada em 18 de março de 2005
Fontes
- Gabriela Guerreiro,David Silberstein. Commission considers case closed on alleged FARC donation to PT — Radiobras, March 18, 2005
- Iolando Lourenço, David Silberstein. Leaders rebut accusations of alleged ties between PT and FARC [inativa] — Radiobras, March 15, 2005. Página visitada em 20 de março de 2005
. Arquivada em 4 de abril de 2009
- Brazil dismisses Colombia rebel cash report [inativa] — Reuters, March 18, 2005. Página visitada em 20 de março de 2005
. Arquivada em 18 de março de 2005
- Vasconcelo Quadros. Abin descarta envolvimento entre Farc e PT [inativa] — O Estado de São Paulo, March 17, 2005. Página visitada em 20 de março de 2005
. Arquivada em 8 de abril de 2005
- Registros do BC desmentem ligação do PT com Farc — Terra, March 15, 2005
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