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21 de junho: nascimento do bruxo do Cosme Velho e do patrono da abolição no Brasil

Fonte: Wikinotícias

22 de junho de 2024

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No dia 21 de junho, é celebrado o nascimento de Machado de Assis (1839), conhecido como bruxo do Cosme Velho, e de Luiz Gama (1830), o patrono do abolicionismo no Brasil. Importantes figuras para a história e a cultura brasileiras, sua atuação no século 19 deixou um legado que se estende até os dias atuais. Considerados “homens letrados”, Machado de Assis e Luiz Gama eram também “homens de cor”. Mesmo assim, suas trajetórias tiveram enredos diferentes, bem como a forma como foram considerados desde o Brasil Império até as mais recentes traduções e produções audiovisuais.

Neste 21 de março, o Instituto Tebas lança uma websérie de sete episódios intitulada Liberdade ou Morte: histórias que a História não conta. O 1º episódio, Caminhada Luiz Gama Imortal, narra a celebração da memória do escritor, jornalista, advogado, líder abolicionista e republicano Luiz Gama, nascido há 194 anos.

“Mais do que um símbolo, a caminhada é uma experiência fundamental e recorrente na trajetória de Luiz Gama. E não só durante a sua vida, mas já a partir do seu funeral, acompanhado a pé ao longo de cinco quilômetros, por mais de três mil pessoas, numa São Paulo de 30 mil habitantes”, lembra Abilio Ferreira, escritor e coordenador da área de Relações Institucionais do Instituto Tebas.

Machado de Assis

Passados 185 anos do nascimento de Machado de Assis, o Google Trends registrou um aumento repentino no interesse dos leitores norte-americanos pelo autor. Após vídeo da escritora e influenciadora norte-americana Courtney Henning Novak viralizar nas redes sociais, Memórias Póstumas de Brás Cubas se tornou um dos livros mais vendidos na Amazon dos Estados Unidos.

“Hoje, um americano provavelmente será apresentado ao Machado como um autor negro. Diferente do público brasileiro, principalmente das gerações mais velhas, que talvez tenha descoberto quando adulto que o Machado era negro. No Brasil, a gente teve que resgatar essa consciência de que um dos autores mais importante da nossa literatura é um homem negro”, afirma Ursula Sydio, mestre em Letras e Tradução pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Sua pesquisa desenvolveu um site reunindo as traduções publicadas em língua inglesa do autor Machado de Assis em um catálogo atualizado e com informações como ano de publicação e tradutores da obra, o Machado de Assis – Corpus & Catálogo (MACC). Atualmente, Machado voltou a figurar no TikTok com a influenciadora Courtney, que desta vez leu a obra Dom Casmurro. “É muito importante dizer que o maior escritor brasileiro é um homem negro que viveu no século 19, em uma sociedade escravocrata e sofreu as agruras de estar nesse contexto. Isso revela muito sobre a própria história brasileira”, comenta Esdras Soares da Silva, que estudou a representação de escritores negros brasileiros em materiais didáticos de sistemas privados de ensino.

Luiz Gama

O primeiro reconhecimento a Luiz Gama viria somente em 3 de novembro de 2015, pela Ordem dos Advogados do Brasil, Seção São Paulo, que concedeu o título de “advogado” 133 anos após sua morte. Em 1931, com grande mobilização do Movimento Negro jornalístico, literário e carnavalesco de São Paulo, um busto de Gama foi instalado no Largo do Arouche. A homenagem, que pretendia celebrar o centenário do nascimento de Luiz Gama, chegou com um ano e meio de atraso.

Quase 90 anos depois, a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira), órgão do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, reconheceu Luiz Gama, oficialmente, como um integrante da categoria. E em 2021, a USP concedeu o título de doutor “honoris causa” póstumo a Luiz Gama, a pedido do jornalista, militante do movimento negro e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP Dennis de Oliveira.

“Nosso objetivo nesse movimento para concessão do honoris causa foi de reconhecê-lo como um intelectual. Ele era um defensor do fim da escravidão e atuou em diversas áreas do conhecimento: jornalista, poeta, literário, jurista. Ouso dizer que ele é o primeiro intelectual público do Brasil, essa figura que tem um compromisso político sem estar preso meramente a uma área específica, exercendo essa capacidade intelectual em defesa de uma causa de importância democrática”, aponta Oliveira.

O professor lembra que sua primeira atitude como rábula foi provar a ilegalidade de sua escravização, já que nasceu de mãe livre. Junto ao caricaturista italiano Ângelo Agostini, criou e redigiu O Diabo Coxo, jornal abolicionista que fundou a imprensa ilustrada em São Paulo. Escreveu artigos em jornais como o Radical Paulistano e O Cabrião. Lançou, ainda, o livro Primeiras Trovas Burlescas de Getulino, seu único livro, com poemas satíricos e líricos, publicado em 1859.

“Em boa parte da história do jornalismo não temos a presença de Luiz Gama. Muitos creditam O Diabo Coxo apenas ao Agostini, enquanto Gama era uma figura importante naquela miríade de jornais políticos que permearam o cenário da imprensa no século 19”, destaca Dennis.

Para o jornalista e professor da USP, a presença de Luiz Gama também não é observada na história da literatura brasileira. “A proposição do título de doutor para ele vem de uma escola de comunicações e artes, colocando o Gama não apenas no campo jurídico, mas intelectual, artístico, em prol da abolição”, diz.

Luiz Gama Imortal

O Instituto Tebas lançou, nesta sexta-feira (21), uma narrativa fotográfica, textual e audiovisual intitulada Liberdade ou Morte: histórias que a História não conta. O Episódio 1 – Caminhada Luiz Gama Imortal – teve seu lançamento em duas etapas: às 18 horas, no Largo do Arouche, e às 19 horas, no Sindicato dos Jornalistas. Ainda o Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) outorgará a medalha Luiz Gama ao ator Deo Garcez, que interpreta o patrono da abolição na peça Luiz Gama: uma voz pela liberdade (@espetaculoluizgama), há nove anos em cartaz.

“Essa questão da caminhada está na vida de Luiz Gama desde 1840. Porque foi quando ele foi vendido pelo pai, em Salvador, conduzido de navio até Cubatão e depois subiu a pé a Serra do Mar. Inclusive, o fato da gente começar [a caminhada] no cemitério da Consolação e descer, ao invés de encerrar aqui, simboliza a eternidade de Luiz Gama”, explica Abilio Ferreira durante uma das Caminhadas de Luiz Gama gravada para o primeiro episódio da websérie, a que o Jornal da USP teve acesso.

Tradicionalmente, há 30 anos com alguns hiatos, acontece em São Paulo a Caminhada Luiz Gama – reproduzindo o ato de 1882 quando cerca de 10% da população paulista se revezou segurando as alças de seu caixão, caminhando do Brás, onde ele morava, até o Cemitério da Consolação. A caminhada, que às vezes é feita em junho, comemorando seu aniversário, e às vezes em agosto, relembrando sua morte, este ano deve ocorrer nas duas datas.

Fontes[editar | editar código-fonte]