Violência no campo dispara no Brasil

Fonte: Wikinotícias

19 de abril de 2022

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Por Amazônia Real

O Brasil bate recordes de violência contra comunidades tradicionais e agricultores familiares. Em 2021, cresceram em 1.110% as mortes consequentes de conflitos no campo e houve dois massacres de indígenas e sem-terra. Matadores de encomenda, agromilícias e agentes públicos cometeram 35 assassinatos em áreas rurais, número superior aos 20 registrados em 2020. Foram mais de duas execuções por mês na Amazônia Legal (80% do total do País). Na região Norte, a água também é motivo de graves conflitos, com aumento de 18% de casos e 54% do número de famílias envolvidas. Na parte amazônica de seu território, o Maranhão enfrenta uma situação calamitosa, com aumento de nove vezes nos registros de enfrentamentos por conta da água.

É o pior cenário da série histórica registrada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) desde 1985. Nesta segunda-feira (18), a CPT lança o relatório “Conflitos no Campo Brasil 2021”, um retrato cruel sobre a violência rural que não cessa. Em 20 de março de 2022, militares ao sul da Venezuela provocaram a chacina de três homens, de 22 a 30 anos, e uma mulher de 45, do povo Yanomami que vive em regiões de fronteira. Foi o segundo em sete meses na mesma Terra Indígena. Em agosto do ano passado foram assassinados três indígenas isolados (sem contato) Moxihatëtëa”, no garimpo Faixa Preta, do lado brasileiro, onde esse território está invadido por 20 mil garimpeiros. O levantamento parcial da CPT já contabiliza 14 assassinatos em 2022 no país, o que indica que a tendência é esse cenário só piorar.

Outra morte lembrada no relatório é o assassinato dos ambientalistas José Gomes, o Zé do Lago, de sua companheira Márcia Nunes Lisboa e sua filha Joane Nunes, em 9 de janeiro deste ano. Eles atuavam na proteção de tartarugas dentro da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu. Até o momento, o Estado não concluiu as investigações.

Conflitos por água

Existem 304 conflitos por água no Brasil, envolvendo 56.135 famílias, com um balanço feito em todo o Brasil mostrando que a maioria deles são provocados por mineradoras internacionais (30%), setores empresariais (19%), fazendeiros (14%), pela instalação de hidrelétricas (10%), empreendimentos governamentais (9%) e pela atuação de garimpeiros (8%).

“Chama a atenção ano a ano o protagonismo persistente das mineradoras, como principal ator dos conflitos por água”, apontaram os pesquisadores Maiana Teixeira e Talita Montezuma, autoras de textos do relatório. Entre os registros, 135 envolvem disputas por uso e preservação das águas, 127 se relacionavam a obras como açudes e barragens e 40 envolvem investidas para apropriação privada direta das águas, com cercamento e expropriação de territórios. “Setores empresariais somados concorrem na responsabilidade direta de mais de 80% dos casos, mas não é desprezível a participação direta e indireta do Estado, que deveria garantir o imperativo legal da água como bem público e direito humano”, anota o relatório.

No Pará, o rio Tapajós é um dos exemplos das desgraças que os brasileiros promovem contra seu próprio patrimônio. “A nossa vida era de fartura na margem de um dos mais lindos rios de águas doces da Amazônia. Águas verdes e ricas em variedade de peixes. Tucunaré, surubim, dourada”, conta a ribeirinha Marilene Rodrigues Rocha, moradora da comunidade Vista Alegre do Muratuba, situada na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns.

“De uns tempos pra cá, 2005 ou 2006, começou a mudar, perder a cor. Já nessa época a gente clamava e não éramos ouvidos. Agora descobrimos que muitas comunidades bebem água e comem peixes contaminados pelo mercúrio dos garimpos. Agora se sente coceira no corpo quando se banha. Não é mais aquele banho bom”, lamenta a ribeirinha.

Fontes