O “efeito Kamala” no voto latino
21 de outubro de 2024
“Eleitores latinos, nós vemos vocês e estamos prontos para vencer juntos.” Quem assina esse tuíte de 27 de setembro é Julie Chavez Rodriguez, a primeira latina a dirigir uma campanha presidencial nos Estados Unidos. A californiana de 46 anos, neta de um líder histórico dos trabalhadores rurais, está encarregada de levar Kamala Harris a vencer a eleição de 5 de novembro contra Donald Trump.
Tanto a democrata quanto o republicano têm se esforçado para conquistar o voto latino, uma comunidade que se tornou a maior minoria étnica do país. Mas Harris tem mais em jogo nessa disputa: historicamente os eleitores de seu partido, muitos hispânicos veem na vice-presidente – uma mulher mestiça e filha de imigrantes – uma representante das minorias. Alguém mais empático com suas necessidades do que Trump, que não teve vergonha de replicar no último debate uma notícia falsa: que os imigrantes haitianos estão comendo os animais de estimação das famílias da cidade de Springfield, Ohio.
O tuíte de Julie Chavez deve ser entendido no seguinte contexto. Desde que Harris se tornou candidata oficial no final de agosto, o Partido Democrata renovou a esperança de se manter na presidência depois que Joe Biden renunciou à reeleição. E esse impulso também está sendo sentido entre os eleitores hispânicos.
A organização Voto Latino informou que o registro de eleitores aumentou em 200% desde que Harris assumiu o cargo. Isso equivale a cerca de 112.000 novos eleitores, mais da metade dos quais (56%) entre 18 e 29 anos de idade. Além dos jovens, as mulheres também foram motivadas a votar como resultado do “efeito Kamala”.
Conforme publicado pela CONNECTAS em março, o número de eleitores latinos em 2024 aumentou 6,5% em relação à eleição presidencial de 2020, vencida por Biden, e 20,5% em relação ao número de eleitores aptos a votar em 2016, quando Trump venceu. Este ano, mais de um em cada 10 eleitores (14,7%) será de origem latina, um número recorde. No entanto, dos 36,2 milhões de potenciais eleitores hispânicos, apenas 26 milhões estão registrados para votar. É nesses 10 milhões de eleitores indiferentes, que nunca pisaram em uma seção eleitoral, que a equipe de Harris está de olho.
Faltando quinze dias para a eleição, a candidata do governo concentrou parte de sua campanha nas questões que mais preocupam os latinos: a economia, a moradia e, em menor escala, o direito ao aborto. Do outro lado, Trump não está hesitando em atrair eleitores com um discurso duro contra a imigração, grande parte da qual proveniente de países latino-americanos.
Uma pesquisa recente realizada pelo The New York Times mostra como a eleição será acirrada, e isso se deve em parte à tendência de mudança do voto latino. Se em 2020 65% estavam inclinados a votar em Biden em vez de Trump, desta vez apenas 55% votariam em Harris. E o restante das previsões repete que ambos os candidatos estão empatados após o debate de 11 de setembro.
- Jovens, indocumentados e apáticos
Um relatório do Pew Research Center reflete a realidade contrastante do universo eleitoral latino nos EUA. Embora já sejam a maior minoria (à frente dos afro-americanos), eles ainda têm menos probabilidade de votar do que os americanos em geral (53% contra 72%). Isso se deve, em parte, ao fato de a população latina incluir um grande número de pessoas que são muito jovens; e também porque muitos outros não são cidadãos (19% dos latinos).
E há outro fator que relativiza o peso eleitoral que eles podem ter: quase metade dos eleitores latinos vive em apenas dois estados, Califórnia e Texas. Mas, de acordo com todos os analistas, a campanha provavelmente será definida em três estados do chamado “cinturão do aço” (Pensilvânia, Michigan e Wisconsin), onde os eleitores a serem seduzidos não são latinos, mas homens brancos da classe trabalhadora.
Além disso, os hispânicos são o grupo mais apático quando se trata de votar. Na última eleição, apenas 51% dos eleitores votaram, em comparação com 63% dos afro-americanos e 74% dos brancos.
Fontes
[editar | editar código-fonte]- ((pt)) O “efeito Kamala” no voto latino — Global Voices, 20 de outubro de 2024
Esta notícia é uma transcrição parcial ou total do Global Voices. |