História do nascimento dos décuplos sul-africanos vira caso de polícia e pode se revelar uma grande fraude

Fonte: Wikinotícias

16 de junho de 2021

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O caso do nascimento dos décuplos, chamados de "Thembisa 10" (Thembisa, em português Tembisa, é uma referência ao nome da cidade onde a família mora), no dia 07 passado, tem deixado a África do Sul curiosa e ao mesmo tempo desconfiada, já que desde o início autoridades não têm qualquer informação sobre o caso. A situação só piorou após o marido de Gosiame Thamara Sithole, Teboho Tsotetsi, falar com a polícia no sábado passado sobre o desaparecimento da esposa e das supostas crianças.

Segundo declarações de Tsotetsi aos policiais, ele estava preocupado com o paradeiro de Sithole, já que ela havia dito a ele que visitas ao hospital estavam proibidas devido à covid-19. De acordo com Tsotetsi também, ele havia visto sua esposa pela última vez na noite de domingo de 06 de junho, quando a teria acompanhado até a Clínica Esangweni em Tembisa, após ela dizer que estava em trabalho de parto. No dia seguinte, ela teria lhe enviado uma mensagem pelo Whats App avisando que havia sido internada no Hospital Mediclinic Medforum, informação que o hospital negou logo que contatado.

Dias depois, ela teria avisado ao marido que tinha sido transferida para o Hospital Acadêmico Steve Biko (SBAH) e depois para o Hospital Distrital de Tshwane, que também negaram que tenham tido uma paciente com o nome de Sithole ou tratado de bebês décuplos recém-nascidos. Uma médica do SBAH informou que Sithole procurou os bebês no hospital na semana passada, mas que depois disto tinha desaparecido.

Após a divulgação pela imprensa do aparente desaparecimento, Sithole, no entanto, apareceu dias atrás e deu uma entrevista ao IOL, de um local secreto, dizendo que a família do marido não a amava, que só queria ficar rica com as doações e que não revelaria onde os bebês estão. "Eles esperavam ficar ricos por meio de doações. Ninguém vai me forçar a revelar onde meus bebês estão”, disse.

Ontem, o próprio pai dos supostos bebês disse através de um comunicado que acredita que os "Thembisa 10" não existam e pediu que pessoas e organizações parassem de fazer doações ao casal.

Fraude?

Autoridades da Saúde de Gauteng, estado onde fica Pretória, cidade de moradia do casal, que tem filhos gêmeos, já anunciaram que não há informações de que uma mulher tenha dado à luz décuplos em nenhum hospital público ou privado do estado.

No vídeo feito pelo IOL dias atrás, Sithole aparece sentada sem qualquer sinal de que seja uma mulher que tenha dado à luz décuplos por parto cesáreo há poucos dias. O fato foi observado por internautas e pela imprensa, tendo o News 24 escrito que ela “não parecia mostrar sinais de ter dado à luz recentemente” (veja o vídeo no Twitter do jornalista aqui).

Falta de ética jornalística?

Segundo críticos, o caso pode revelar a falta de ética da imprensa do país, uma vez que foi dada ampla cobertura ao assunto sem a checagem da veracidade dos fatos. O IOL (Pretoria News), primeiro veículo de imprensa a reportar o caso, anunciou que acompanhava a situação, com exclusividade, há meses, mesmo antes dos bebês nascerem.

O Fórum Nacional de Editores da SA (Sanef) criticou o IOL e seu editor, Piet Rampedi, por sua cobertura do caso, afirmando que a publicação não teve senso crítico desde o início e que jamais verificou "os fatos com o hospital ou os médicos envolvidos”. O Fórum também afirmou que o IOL "encorajou as pessoas a contribuir com presentes e dinheiro para ajudar a família".

"Apesar dos muitos furos na história, Rampedi e o IOL continuaram a relatar a história sem que os fatos básicos fossem confirmados ou estabelecidos. Rampedi se recusou veementemente a revelar o nome do hospital ou dos profissionais médicos envolvidos", afirmou o Sanef, ainda enfatizando que está "indignado com o colapso total da ética e dos padrões jornalísticos" e que "todo este episódio classifica-se como um dos pontos mais baixos da história do jornalismo sul-africano".

Em sua coluna no Sunday Times, o jornalista Justice Malala escreveu: "(...) Nenhum repórter júnior que se preze teria tocado em tal história com uma vara de pesca. Um editor de notícias decente a teria jogado fora. Um verdadeiro editor demitiria qualquer um que apresentasse um trabalho assim (...)".

Caso lembra o da Grávida de Taubaté

Em 2011, Maria Verônica Aparecida César Santos, da cidade de Taubaté, São Paulo, ganhou destaque na imprensa brasileira ao aparecer com uma enorme barriga dizendo que estava grávida de quadrigêmeas. A mulher foi desmascarada pela jornalista Chris Flores, que desconfiou da história e, apesar de a entrevistar durante um programa, pediu que um repórter investigasse melhor o caso. O profissional descobriu que a ultrassonografia apresentada por Maria Verônica era uma imagem da internet.

Maria Verônica, que havia recebido doações do Brasil inteiro, teve que devolver os donativos e acabou processada pelo Ministério Público.

O caso é famoso até hoje sob o nome de A Grávida de Taubaté (leia mais sobre o caso no website especializado Jus Brasil).


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Fontes