Engenheiro sul-africano que morreu no Rio tinha febre maculosa, diz Fiocruz
7 de dezembro de 2008
Exames finalizados ontem (6) à noite e confirmados hoje (7) por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Ministério da Saúde, concluíram que a morte do empresário sul-africano William Charles, de 53 anos, registrada no último dia 2, na Clínica São José, no Rio de janeiro, foi causada por febre maculosa.
Segundo o chefe do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério, Eduardo Hage, todas as outras causas investigadas, entre as quais a infecção por arenavírus, que é um vírus comum na África e transmitido por fezes e urina de roedores ou pacientes infectados, foram descartadas.
“A investigação realizada durante toda a semana por equipes do Ministério da Saúde, Secretarias Municipal e Estadual de Saúde e Fiocruz concluiu, incluindo os resultados laboratoriais, que se trata de infecção por febre maculosa”, afirmou.
Hage enfatizou que, como a febre maculosa é transmitida somente por meio da picada de carrapato, “não há nenhum risco de transmissão de uma pessoa para outra e, portanto, não há risco de disseminação para a população”.
Ele indicou também que, pela data de chegada do engenheiro ao Brasil, no último dia 23 de novembro, e o período em que registrou os primeiros sintomas, no dia 25, “está caracterizado que a infecção iniciou no seu país de origem”, na África do Sul.
O vice-presidente da Fiocruz, Ary Miranda, concordou com essa tese, em função do período de incubação. “Ele contraiu na África do Sul porque existe um período de incubação, que é o período entre a pessoa entrar em contato com a bactéria e manifestar os sintomas. Ele chegou aqui no dia 23 e menos de dois dias depois estava fazendo sintomas. O período de incubação é, em média, de sete dias. Então, não deu tempo dele ter adquirido a bactéria aqui e ter feito os sintomas no Brasil. Com certeza, ele veio da África do Sul já portando a bactéria”, explicou.
O seqüenciamento do genoma da bactéria, que confirmará que sua procedência é mesmo sul-africana, deve ser concluído esta semana, informou a chefe do Laboratório de Hantavirose e Rickettioses da Fiocruz, Elba Lemos.
Os exames que comprovaram a febre maculosa foram realizados a partir do último dia 1º, ainda durante a internação do paciente na Clínica São José, através da coleta de amostras de sangue, e também após seu óbito, por meio de amostras das vísceras, segundo Hage.
O monitoramento feito pelo Ministério da Saúde das 25 pessoas que tiveram contato efetivo com o empresário sul-africano, ficando expostas a fluidos e secreções corporais, em função da possibilidade de ter havido infecção por arenavírus, está suspenso a partir de hoje. As pessoas sob investigação serão informadas sobre o diagnóstico ainda hoje, o que as liberará do confinamento.
Os sintomas de uma infecção por febre maculosa se confundem com sintomas iniciais de várias doenças, como a dengue, por exemplo. São febre alta, dores no corpo, dor de cabeça, vômitos e manchas no corpo. No período de incubação, não se tem, como para a maioria das doenças infecciosas, a detecção através dos testes sorológicos ou mesmo de biologia molecular.
Essa característica, de acordo com a médica infectologista da Fiocruz Elba Lemos, aumenta a importância de que seja feito um diagnóstico clínico abrangente e a retrospectiva da rotina do paciente, que admita todas as doenças febris possíveis e busque informações junto ao próprio paciente, a fim de iniciar o tratamento com antibióticos a tempo de garantir a vida dele.
No caso do empresário sul-africano, esse tratamento foi iniciado quando seu quadro apresentou maior gravidade e a bactéria já havia se infiltrado nos vasos sanguíneos, vindo a provocar sua morte.
O vice-presidente da Fiocruz, Ary Miranda, tranqüilizou a população com o resultado dos exames divulgado hoje. “A mensagem fundamental é tranqüilizadora. Nós confirmamos hoje pela manhã o diagnóstico. É uma doença transmitida por carrapato. É uma rickettsiose. Não tem nenhuma possibilidade de ser transmitida de pessoa a pessoa, o que deixa a população absolutamente tranqüila com relação a isso.”
A febre maculosa não é uma doença específica das Américas ou do Brasil, ocorre em todo o mundo. De 1997 a 2008, foram notificados, no Brasil, 641 casos, principalmente nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Rio de janeiro. Somente em Santa Catarina não há registro de mortes por essa doença. A taxa de letalidade é, em média, de 30%.
Fontes
- Alana Gandra. Engenheiro sul-africano que morreu no Rio tinha febre maculosa, diz Fiocruz — Agência Brasil, 7 de dezembro de 2008
A versão original, ou partes dela, foram extraídas da Agência Brasil, sob a licença CC BY 3.0 BR. |
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