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Derretimento precoce do Ártico ameaça os ecossistemas, que podem entrar em colapso

Fonte: Wikinotícias

25 de setembro de 2024

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Situado em uma das regiões mais frias do mundo, o Ártico possui cerca de 21 milhões de quilômetros quadrados, sendo que desse total 65% é composto pelo Oceano Glacial Ártico. Com as mudanças climáticas, no entanto, a região vem sofrendo alterações significativas – antes do esperado, o Ártico pode ter seu primeiro verão sem gelo. De acordo com um estudo publicado pela revista britânica Nature, o primeiro dia sem gelo na região pode acontecer até a década de 2030. O professor Paulo Artaxo, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP, alerta sobre os impactos que esse derretimento das geleiras pode causar no meio ambiente: “É importante perceber que o Ártico é uma das regiões que estão se aquecendo de maneira mais rápida em todo o planeta. E a previsão dos modelos climáticos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas indicam um aumento de temperatura de 7° a 8° para o Ártico ao longo dos próximos 30, 40 anos, a depender do cenário de emissões. Isso realmente está impactando o ecossistema Ártico de uma maneira muito forte, com o derretimento do gelo marinho e também com o derretimento de geleiras continentais, o derretimento dessas geleiras continentais ocasionam aumento do nível do mar”, afirma.

Os pesquisadores analisaram as mudanças de 1979 a 2019, comparando diferentes dados de satélite e modelos climáticos para avaliar como o gelo marinho do Ártico estava mudando, e eles perceberam que o declínio do gelo marinho foi, em grande parte, resultado da poluição causada pelo homem que aquece até hoje o planeta.

Consequências de um verão sem gelo

Com a alteração de seu habitat natural, os ecossistemas podem entrar em colapso. As geleiras são habitats importantes para várias espécies. O derretimento pode ameaçar a biodiversidade, afetando cadeias alimentares e ecossistemas inteiros. Não são apenas a fauna e a flora que sofrem com o aquecimento global, mas sim, também, a sociedade. Paulo Artaxo explica as consequências mundiais que o derretimento dessa região pode causar e acrescenta a dificuldade de previsão precisa dessas mudanças.

“Esse derretimento vai alterar a circulação do oceano e isso é muito importante, porque a circulação oceânica redistribui fortemente o calor de regiões tropicais para regiões temperadas, como, por exemplo, a corrente do Golfo no Atlântico Norte. Isto vai trazer mudanças na distribuição de temperatura, mudanças na distribuição de precipitação e chuvas no mundo inteiro”, discorre.

O permafrost, ou solo permanentemente congelado, desempenha um papel significativo nas discussões sobre o aquecimento global. Ele armazena grandes quantidades de carbono na forma de matéria orgânica que, ao longo de milhares de anos, ficou presa no gelo. Quando o permafrost começa a descongelar devido ao aumento das temperaturas globais, esse carbono é liberado na forma de dióxido de carbono e metano, dois potentes gases de efeito estufa.

Esse processo de liberação de gases pode acelerar o aquecimento global, criando um ciclo vicioso: o aquecimento provoca o descongelamento do permafrost, o que, por sua vez, libera mais gases de efeito estufa, aumentando ainda mais as temperaturas. O professor comenta sobre o impacto desse processo de aquecimento e a dificuldade de previsões precisas. “É uma mudança tão drástica, que hoje é difícil você fazer uma previsão com alta precisão de quais serão essas mudanças, onde e quando. Mas, dada a magnitude da influência do Ártico no clima global, nós temos certeza que esse impacto vai ser muito significativo. Então, nós temos grandes quantidades de metano não armazenadas no gelo sobre o Oceano Ártico, mas armazenadas no que a gente chama de permafrost, que são regiões continentais da Sibéria e do Canadá, principalmente onde bactérias e matéria orgânica que estão lá há milhões de anos, ao se decompor, emitem metano para a atmosfera”, reitera.

Ainda há tempo?

Apesar de os danos ao planeta já serem irreversíveis, ainda se faz necessário encontrar formas de tentar desacelerar o derretimento do Ártico. Para isso, Paulo Artaxo recomenda a mudança imediata de ações do ser humano. “O aquecimento global, que já ultrapassou 1,5° Celsius, em média, em todo o planeta, está fazendo com que esse derretimento do gelo do Ártico e do gelo armazenado na Groenlândia, no Canadá e na Sibéria seja irreversível. Então, não há como hoje refrear o aquecimento que a gente provocou ao longo dos últimos 30, 40 anos. Entretanto, reduzir emissões de gás de efeito estufa hoje é a melhor maneira de prevenir futuros desastres climáticos como esse do derretimento do gelo do Ártico. Temos que reduzir as emissões de gás de efeito estufa, temos que terminar a exploração de combustíveis fósseis em todo o planeta e acabar com o desmatamento de florestas tropicais como a da Amazônia. Isso é uma tarefa urgente se quisermos diminuir os impactos das mudanças climáticas no clima global do nosso planeta”, conclui.

((pt)) Malu Vieira. Derretimento precoce do Ártico ameaça os ecossistemas, que podem entrar em colapso — Jornal USPs, 25 de setembro de 2024