Brasil começa a criar rede nacional de telescópios para monitorar lixo espacial
20 de dezembro de 2024
Brasil começa a criar rede nacional de telescópios para monitorar o lixo espacial. O objetivo é monitorar os milhões de detritos em órbita da Terra que colocam em risco satélites, foguetes e a segurança no planeta
O Brasil deu início à estruturação de uma rede nacional de informações sobre lixo espacial. Os principais objetivos da iniciativa são estabelecer o monitoramento dos detritos e gerenciar o risco de colisão com satélites brasileiros, ampliar a segurança de lançamentos realizados no Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão, e reduzir riscos de acidentes na reentrada de artefatos em rota de colisão com o território nacional. A estrutura também irá colaborar com as redes internacionais de vigilância de detritos espaciais. Estima-se a existência de mais de 130 milhões de objetos – a maioria deles milimétricos – orbitando o planeta Terra.
A primeira fase será estabelecida com a conclusão da aquisição pela Divisão de Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, de um sistema de gerenciamento de riscos e de três telescópios. O investimento, de R$ 12 milhões, será da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
“esses telescópios de maior abertura são capazes de detectar artefatos de menor brilho. Também são usados para identificar e caracterizar objetos ainda não catalogados”, explica o engenheiro aeroespacial Carlos Amaral, membro do LMOE-ITA e capitão da Força Aérea Brasileira (FAB).
Os três telescópios terão como foco principal a observação de objetos que se deslocam por órbitas médias, entre 2 mil quilômetros (km) da Terra e 35.786 km.
Após a aquisição dos telescópios, o prazo previsto de instalação é de um ano. Um dos aparelhos deverá ser integrado ao Observatório Pico dos Dias, do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), no município mineiro de Brazópolis. Estuda-se instalar os outros dois em São Paulo e Goiás.
O sistema de gerenciamento de risco já foi adquirido e encontra-se em operação desde janeiro deste ano. Denominado GSTT Orbit Guard, é um software desenvolvido pela empresa italiana GMSPAZIO, que utiliza informações coletadas por telescópios e outros tipos de sensores, como radares, para prever e prevenir riscos de colisões.
A maioria dos telescópios dedicados ao rastreamento de lixo espacial está no hemisfério Norte e há muitas lacunas na observação abaixo da linha do Equador. No Brasil, o único equipamento dedicado a essa tarefa é o Panoramic Electro Optical System (PanEOS), que pertence à Agência Espacial Federal Russa (Roscosmos). Está instalado desde 2017 no Observatório Pico dos Dias, após acordo com a Agência Espacial Brasileira (AEB), e sua gestão é partilhada com a Fundação de Pesquisa e Assessoramento à Indústria, com sede em Itajubá (MG).
Em boletim emitido em julho de 2024, a Agência Espacial Europeia (ESA) estimou que vagueiam pela órbita terrestre 40,5 mil detritos espaciais maiores de 10 cm, 1,1 milhão de objetos entre 1 cm e 10 cm e 130 milhões de detritos de 1 milímetro (mm) a 1 cm. Apenas 36.860 objetos, os maiores, são regularmente rastreados pelas redes de vigilância espacial e mantidos em seus catálogos.
A maioria dos fragmentos é resultante de aproximadamente 650 colisões, explosões e rompimentos gerados em artefatos espaciais, como o choque do satélite desativado russo Kosmos 2251 com o norte-americano Iridium 33, em 2009, que produziu 2 mil detritos maiores de 10 cm e milhares de fragmentos menores.
“Um objeto milimétrico viajando em velocidades que superam 20 mil quilômetros por hora pode causar danos significativos ao colidir com um satélite, um telescópio espacial ou a Estação Espacial Internacional”, diz o astrofísico Roberto Dias da Costa, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). “Um satélite avariado pode ter impacto significativo nas telecomunicações, na vigilância territorial ou na previsão climática.”
Para a vida na Terra, o lixo espacial ainda não gerou danos concretos. Só há conhecimento de uma pessoa atingida por fragmentos vindos do espaço, a norte-americana Lottie Williams, em janeiro de 1997, sem nenhuma consequência. “Não há registro de danos materiais significativos”, relata Costa. A maioria dos objetos perdidos no espaço, diz o professor da USP, é de tamanho reduzido, o que faz com que queimem e se desintegrem ao entrarem na atmosfera terrestre. Até hoje, os detritos maiores que não queimaram ou se fragmentaram caíram principalmente em áreas desérticas ou em oceanos. “Mas os riscos sempre existem”, adverte.
Fontes
[editar | editar código-fonte]- ((pt)) Domingos Zaparolli. Brasil começa a criar rede nacional de telescópios para monitorar lixo espacial — FAPESP, 19 de dezembro de 2024
Essa notícia, ou partes dela, foi extraída da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). |