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A Folia de São Paulo: problema e solução

Fonte: Wikinotícias
    Debate sobre o Carnaval de rua em Sâo Paulo e uma possível solução para a problemática de espaço dentro de bairros residenciais.

Em 2015, 1,5 milhão de pessoas celebraram o Carnaval em ruas paulistas. Os dados, da Secretária de Turismo de São Paulo (SPTuris), mostram um crescimento na procura pelos blocos de Carnaval, que já são consagrados em cidades como Rio de Janeiro, Recife e Olinda. Devido a essa forte adesão da população, as festas precisaram ser repensadas no que diz respeito a organização.

Ainda no ano passado, quando a Prefeitura de São Paulo contabilizou 300 blocos de rua, foi preciso uma intervenção da Polícia Militar para organizar a multidão de foliões, principalmente nas regiões de Pinheiros e da Vila Madalena - bairro este que se sente especialmente prejudicado com as celebrações carnavalescas. Segundo Camila Ferraz, moradora da Vila Madalena há 4 anos, "Só que quando chega o carnaval de rua, vira um inferno para fazer qualquer coisa. Há momentos em que você só quer voltar para casa em segurança e se depara com gente porca, que joga lixo no chão, gente bêbada....".

Situações como essa fizeram com que, em fevereiro desse ano, 1.424 moradores e comerciantes da Vila Madalena assinassem uma petição à Prefeitura de São Paulo, que reivindicava uma diminuição no número e na duração dos blocos de Carnaval. Como lembra a moradora Camila Ferraz, “Tem muita coisa para melhorar, principalmente na fiscalização de horários. Principalmente horário para determinar o final. Eles têm que pensar que isso é um bairro residencial, que tem moradores, e em qualquer emergência estará transito e perigo para sair na rua."

Por outro lado, o decreto que coloca imposições sobre os blocos de Carnaval é visto com maus olhos pela Associação das Bandas Carnavalescas de São Paulo (Abasp). Para Candinho Neto, presidente do grupo, a culpa não é dos foliões. Ele argumenta que “Não fazemos desfiles na selva, para nos preocupar com a natureza. Fazemos numa cidade, onde a sociedade não é uniforme (...) Infelizmente existem aqueles que excedem na bebida, ou até outras coisas, como drogas, e aí acabam por deturpar a grande festa chamada Carnaval, que lógico, acaba levando a culpa”

Uma possível solução para a controvérsia estaria no histórico carnavalesco que o Rio de Janeiro carrega. Na Cidade Maravilhosa, a festa inspira diversão e respeito acima de qualquer coisa, além de ser inclusivo. Regras, que muitas vezes podem - e impõem – limitações, agem como mediadoras para que a finalidade da festa não perca a sua essência, como diz Victor Stelee, jornalista e apaixonado pela festa brasileira. Para ele, que tem a cultura da festa como uma herança de sua família, que desfilava pela Mangueira e acompanhava de perto os bloquinhos de rua, alguns limites devem ser estipulados, visando o bem-estar dos frequentadores e a preservação da folia.

“Quem quer prolongar a folia, vai para os bares, baladas ou lugares propícios. Nas ruas a baderna é mínima: os profissionais da limpeza, por exemplo, conseguem fazer o seu trabalho, moradores conseguem ir e vir enquanto outros conseguem dormir sem problema algum. Isso sim é Carnaval: há folia, mas há respeito, sempre. Além disso, outras leis são levadas realmente a sério, como a do Psiu (as pessoas que desobedecem realmente levam multas) assim como as de fazer necessidades básicas nas ruas. No Rio, você é notificado e paga multa, muito alta por sinal”, conta ele.

Victor justifica a desorganização como um dos principais pontos a serem levados em consideração para uma reformulação que agrade tanto os foliões, como os comerciantes e moradores de regiões próximas à celebração, como no caso da Vila Madalena. O Rio de Janeiro, como especialista quando se trata do Carnaval, deveria seguir como exemplo para a capital paulistana abrigar a festa de rua.

“Acho que a baderna acontece primeiro por ser ainda muito novo na cidade, os bloquinhos na capital só tomaram consistência há dois anos, a população precisa entender que o Carnaval de rua não é passar a madrugada importunando vizinhos e descumprindo leis, mas sim é uma festa de troca de cultura e um modo de extravasar, mas de maneira consciente. Assim como no Rio, é necessário que haja regulamentação e controle (...) Se espelhar no Carnaval carioca é uma solução viável, lá funciona, é secular e os problemas são mínimos, mas também tudo é muito bem fiscalizado. São Paulo precisa adotar medidas se quiser ter, de fato, um Carnaval de rua e é isso que vem acontecendo a passos lentos, porém importantes”, argumenta ele, tomando por base sua participação em ambas situações.

Entre discussões de possíveis proibições em uma festa que prega a liberdade em sua fama nacional e internacional, o jornalista insiste em uma conscientização da própria sociedade que usufrui das ruas como palco para o grande espetáculo, reforçando a importância da medição dos passos dados em São Paulo. Ele relembra “No final do ano passado, já proibiram os cordões, como no Rio e também já delimitaram o tamanho e horário dos blocos. É algo necessário para que o Carnaval aconteça, mas agora tem de haver uma conscientização das pessoas que estão nas ruas para entender que a partir do momento que os blocos acabaram é hora de dispersar e talvez isso leve algum tempo”.

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