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38 anos após acidente de Chernobyl, 12% do território da Bielorrússia permanece contaminado

Fonte: Wikinotícias
Reator 4 several months after the disaster

28 de junho de 2024

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Em 26 de abril de 1986, um acidente catastrófico ocorreu na Usina Nuclear de Chernobyl. Uma paralisação programada do reator, que durou 20 segundos, pareceu uma verificação de rotina dos equipamentos elétricos. No entanto, alguns segundos mais tarde, uma explosão química liberou cerca de 520 tipos de radionuclídeos nocivos na atmosfera. Trinta e oito anos depois, agentes do governo bielorrusso afirmam que 12% do território do país continua contaminado.

A Usina Nuclear de Chernobyl se localizava próxima à cidade de Pripyat, no norte da Ucrânia, que na época fazia parte da RSS da Ucrânia, perto da fronteira com a RSS da Bielorrússia. Pripyat está abandonada desde o ano do acidente e uma zona de exclusão foi criada em um raio de 30 km ao redor da usina. Mais de 100 mil habitantes foram evacuados do local.

Ao norte da parte ucraniana da zona de exclusão está a Reserva Radioecológica do Estado da Polésia, que pertence ao território da República da Bielorrússia. Há 96 assentamentos abandonados na região, onde mais de 22 mil moradores viviam antes do acidente e evacuação em 1986.

Segundo a imprensa estatal bielorrussa, no final de abril de 2024, o primeiro diretor-adjunto do Departamento de Segurança Nuclear e Radioativa na Bielorrússia Leonid Dedul disse durante uma coletiva de imprensa:


Como consequência das explosões e incêndios, cerca de 200 tipos de radionuclídeos, com meia-vida que pode variar de algumas horas a centenas de milhares de anos, foram lançados na atmosfera, sendo a Bielorrússia a mais atingida. Se considerarmos o césio-137, por exemplo, 35% do total caiu sobre o nosso país. Este radionuclídeo representa cerca de 90% da dose de radiação sobre a população. Desde o acidente, a área de território contaminado pelo césio-137 na Bielorrússia diminuiu quase pela metade e agora chega a 25,5 mil km², ou 12% da área total do país. Atualmente, há mais de 2 mil áreas habitadas localizadas em zonas contaminadas por radiação, com aproximadamente 930 mil pessoas (das quais 185 mil são crianças) vivendo nelas.

Leonid Dedul

Apesar dos relatórios da imprensa estatal sobre o sucesso do programa financiado pelo governo bielorrusso que lida com as consequências econômicas, sociais e ambientais do desastre de Chernobyl, muitos estrangeiros se mostram céticos quanto a isso.

Alyaksandr Lukashenko, que ocupa a presidência da Bielorrússia há 30 anos, declarou que o programa funcionou tão bem que “Chernobyl levou um tapa na cara”.

No entanto, o historiador bielorrusso Alexander Fridman acredita que o regime de Lukashenko vem manipulando a memória e a opinião do público a respeito da tragédia por meio de propagandas governamentais. Objetivos econômicos, diz, e a capacidade de usar territórios contaminados a seu favor, foram os condutores do programa de Lukashenko. Em seu artigo de opinião para o DW, ele argumenta que a população foi negligenciada e pesquisas apontando as graves consequências de se usar a terra mesmo após vários anos, foram veladas.

Um dos pesquisadores foi Yury Bandazhevsky, ex-diretor do Instituto Médico de Gomel e cientista dedicado a estudar as consequências do acidente de Chernobyl. Em 2001, foi condenado a oito anos de prisão na Bielorrússia. Segundo diversos grupos de direitos humanos, o Dr. Bandazhevsky foi um prisioneiro de consciência. Sua prisão ocorreu logo após a publicação de relatórios em que criticava as pesquisas oficiais sendo conduzidas sobre Chernobyl.

Em 2005, ele recebeu a liberdade condicional e atualmente trabalha na Ucrânia. Em uma de suas entrevistas ao DW, 30 anos após o acidente, Bandazhevsk disse:


Acredito que, mesmo três décadas após o acidente de Chernobyl, a situação não tenha mudado o suficiente a ponto de ser seguro a habitação ou a prática agrícola na região. Sim, os níveis de radiação do césio-137 e do estrôncio-90, que possuem meia-vida de aproximadamente 30 anos, de fato diminuíram. Contudo, quando o césio atinge a meia vida, ocorre a formação do bário, que é quase impossível de eliminar das células.

Os radionuclídeos migraram para o solo e penetraram nas cadeias biológicas das plantas, dos animais e dos seres humanos, afetando células de seus órgãos vitais. Muitos (funcionários do governo) ignoram este fato e afirmam ser seguro viver nas áreas afetadas pelo acidente da usina nuclear.

Nós começamos a estudar as mudanças que ocorriam no corpo humano sob a influência de elementos radioativos cinco anos após a explosão. Na época, foram registradas patologias graves em órgãos internos (cérebro, coração e sistema endócrino) que podem ser consideradas fruto da exposição direta a radioativos. Porém, os funcionários (bielorrussos) não quiseram associar causa e efeito. Entretanto, no distrito de Vietka na Bielorrússia, muitas das crianças observadas entre os anos de 1993 e 1995, faleceram.

Devemos considerar que entre as vítimas podemos incluir aqueles que moram longe de Chernobyl, mas que consomem mercadorias produzidas na região. Na Bielorrússia, após o acidente de Chernobyl, alguns indivíduos “inteligentes” tiveram a ideia de misturar os produtos “poluídos” com os “não poluídos”. Na região de Gomel, terras contaminadas foram usadas, primeiro de forma secreta e depois abertamente, para fabricar produtos agrícolas, e, além disso, o gado é alimentado com grãos produzidos no local. Os produtos da região continuam a ser distribuídos por todo o país. Atualmente, a situação atingiu um ponto em que esses territórios foram reclassificados como “despoluídos”, economizando benefícios financeiros assistenciais.

Yury Bandazhevsky

Em outubro de 2023, segundo a imprensa, a ONG Children of Chernobyl (Crianças de Chernobyl), que levou milhares de crianças das áreas contaminadas a países europeus a fim de receberem cuidados médicos e psicológicos, foi desativada por um tribunal bielorrusso como uma medida repressiva contra a sociedade civil do país. Além disso, há mais de dois anos, desde o início da invasão russa à Ucrânia (apoiada por Lukashenko), a Bielorrússia não transmite dados de pesquisas ou quaisquer informações relacionadas a Chernobyl aos outros países, exceto por raras reuniões da IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Portanto, não é possível conduzir uma avaliação independente sobre o que acontece nas áreas contaminadas da Bielorrússia. É seguro dizer que, sem a queda do governo de Lukashenko, o público dentro e fora do país nunca saberá o verdadeiro ônus do desastre de Chernobyl.

Fontes[editar | editar código-fonte]