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Ana Célia, uma feirante do Paraguay

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Fonte: Wikinotícias
(Redirecionado de Entrevista com pessoas comuns - Ana Célia)

Brasília • 9 de dezembro de 2010

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A Feira dos importados de Brasília era conhecida como "Feira do Paraguay", ou apenas "Paraguay", por conta de seu início clandestino no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Para evitar a avalanche de consumidores que nos meses de dezembro superlotam as estreitas fileiras de barracas, cheguei bem cedo, antes das nove da manhã. A bem da verdade já não existem barracas. Depois que foram retirados do estacionamento do Mané Garrincha, os feirantes ganharam uma área nobre ao lado do Ceasa, em frente aos silos da CONAB e atrás da Multifeira, um enorme galpão, show-room de várias lojas de móveis de sala e dormitório, no Setor de Indústria. A área da Feira tem estacionamento dos dois lados, um do lado de cá, um pátio arborizado no lado do CEASA. Àquela hora estava vazio e com os vigias, chamados de tocadores de conta, com olhos brilhando com tradicional bom humor. Um deles acenou pra mim, mostrando uma vaga como quem mostra um tesouro reservado só pra mim.

Nesse dia, comprei o que queria, uma luva de mergulhador de couro fino e neoprene, ideal para fazer trilha e subir nos morros mais íngremes se agarrando nos arbustos cheios de espinhos e nas pequenas árvores de casca grossa e áspera do cerrado goiano. Aproveitei pra comprar também um gravador digital SONY, dessas maravilhas tecnológicas de 2 Gigabytes de memória e capacidade para até 535 horas de gravação. Para efetivar a compra, escaldado por já ter levado gato por lebre, testei o gravador entrevistando a moça que me atendeu. Como a maioria das mocinhas do Piauí, uma mulher baixa, magra e com aquele sentimento de menos-valia.

- "Ana, você já vendeu muita coisa hoje?" Acanhada me respondeu "não"… Eu emendei, com tom de estranhamento, "é a primeira coisa que você vende hoje?" "É… porque?", me desafiou. Eu fingi que não ouvi a provocação e desconversei: "ah, então eu vou te dar sorte". Ela ficou meio sem graça... "Ah, que bom…" E eu continuei naquele ping pong: "Mas como é que é o seu nome? Ana. Ana de quê? Ana Célia. E o nome do seu pai? Antônio. Antônio de quê? Ribeiro. Ele nasceu no Piauí também? Foi. E sua mãe? Também no Piauí.

Resolvi interromper a entrevista. De todo modo, já tinha testado o equipamento.


Fontes

Reportagem original
Reportagem original
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