Valdemar Costa Neto disse à CPI que mesada era Caixa 2 da campanha de Lula, não mensalão

Fonte: Wikinotícias

Brasil • 23 de agosto de 2005

Email Facebook X WhatsApp Telegram LinkedIn Reddit

Email Facebook Twitter WhatsApp Telegram

 

O presidente do Partido Liberal (PL) do Brasil e ex-deputado Valdemar Costa Neto prestou depoimento nesta terça-feira (23) para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Compra de Votos, também conhecida como CPI do Mensalão.

Costa Neto negou a existência do mensalão, operação ilegal através do qual deputados do poder Legislativo brasileiro recebiam dinheiro para votar seguindo a orientação do poder Executivo.

Para o presidente do PL o que houve foi uso indevido de recursos financeiros não declarados à Justiça Eleitoral, também chamado de fundos não contabilizados, ou "caixa 2".

O depoimento começou mais ou menos ao meio-dia e terminou por volta das 20:00 no horário local.

Valdemar nega existência do mensalão

Valdemar Costa Neto disse que o mensalão foi uma invenção do deputado Roberto Jefferson (PTB-Rio de janeiro) para "criar uma cortina de fumaça" e desviar a atenção das investigações de corrupção nos Correios: "Roberto Jefferson sabia do caixa 2. Mas isso não era o suficiente para distrair a atenção de seus crimes. (...)Ele inventou o mensalão como chantagem para quem usava o caixa 2."

Costa Neto disse que "um partido que tem o vice-presidente da República não precisa de dinheiro para votar com o governo".

Para Costa Neto, algumas acusações são injustas e o dinheiro que por ventura foi pego, foi recurso para campanha política: "Nós não podemos acusar o [deputado] João Paulo, o Luizinho, Paulo Rocha, o Borba, de estarem envolvidos com o mensalão. Ninguém pegou esse dinheiro para pôr no bolso. É gente de bem. É gente séria. Foi tudo recurso de campanha."

Valdemar afirmou que o líder do PL, o deputado Sandro Mabel (PL-GO), está sendo injustiçado pelas denúncias de Jefferson.

Valdemar Costa Neto também disse que não vai retirar o processo de cassação contra o deputado Roberto Jefferson: "E eu quero dar esse recado agora para o Roberto Jefferson, como ele deu o recado para o Zé Dirceu. Não retiro teu processo de jeito nenhum. Não vou retirá-lo. Vossa Excelência vai ficar oito anos sem mandato porque vai ser cassado e banido da vida partidária brasileira".

O ex-deputado explicou ainda o motivo da sua renúncia: "A renúncia libertou-me das ameaças de Roberto Jefferson".

Valdemar explica acordo político entre PT e PL

Valdemar Costa Neto disse que não houve exatamente uma transferência de recursos entre o PT e o PL, mas uma gestão conjunta dos fundos de campanha, como um "casamento" entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Liberal (PL), fruto de um acordo firmado em 2002.

Ele disse que o acordo político de 2002 foi perfeitamente normal e legítimo. Para mostrar que o acordo foi público, distribuiu e mostrou um exemplar do jornal Folha de São Paulo, de 21 de junho de 2002, com a notícia: "PL diz que vai participar de caixa de campanha do PT". Valdemar disse que a notícia foi publicada pelo jornal uma semana antes da convenção nacional do PL.

Semelhante ao que já tinha feito na sua entrevista para a revista Época, Valdemar explicou que o apoio financeiro do PT foi necessário porque o PL foi pego de surpresa com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de "verticalizar" as coligações políticas.

Com a verticalização, todos os partidos passaram a ser obrigados a repetir nos estados brasileiros a aliança que era feita a nível nacional, na eleição para presidente. Valdemar disse que com a verticalização ficaria mais difícil para o PL eleger seus candidatos nos estados. Conseqüentemente, não teria direito ao fundo partidário, porque provavelmente não atingiria o número mínimo de votos, definido como 5% do total.

Dinheiro do caixa 2 pagou campanha de Lula

Valdemar Costa Neto disse que era extremamente importante para a sobrevivência política do PL a eleição de Lula para presidente. Por causa disso, antes mesmo de receber os R$ 10 milhões prometidos pelo PT segundo o acordo firmado em 2002, Costa Neto disse que gastou cerca de R$ 6,5 milhões com a campanha de Lula em São Paulo: "Porque São Paulo era o maior problema que o Lula tinha. De 8 milhões de eleitores o Lula ganhou por apenas 100 mil votos a eleição. E em vários bairros ele perdeu."

O dinheiro do acordo, segundo o ex-deputado, só começou a aparecer depois da eleição, em parcelas, durante 18 meses, até janeiro de 2005:

A estratégia deu certo. Eleito Lula, o PL conseguiu incorporar o PST e o PGT para totalizar 5,1% dos votos. A bancada do PL cresceu de 23 para 50 deputados federais. Para receber o dinheiro gasto na campanha de Lula foi mais difícil, precisei cobrar de José Dirceu, em meados de 2003, o compromisso feito por Delúbio. Ele me garantiu que seria honrado, e isso foi feito durante 18 meses, terminando em janeiro de 2005.

Apesar de ter lembrado o então ministro José Dirceu (PT-SP) sobre o compromisso assumido antes da eleição, Costa Neto disse que Dirceu nada sabia sobre a origem dos recursos que eram repassados pelo PT. Ele também isentou de culpa o ex-presidente do PT, José Genoino: "O Delúbio Soares [ex-tesoureiro do PT] tinha total autonomia. O Genoino só cuidava da parte política. Sempre foi um político aplicado e dedicado. Não sei como foi acontecer um desastre desses na vida dele"

Valdemar Costa Neto confirmou que recebeu parte do dinheiro em cheques da empresa SMP&B de Marcos Valério para a empresa Garanhuns. Ele também alegou que não sabia no início que o dinheiro recebido pelo PT não era contabilizado, ou seja, proveniente de caixa 2:

Na época, não tinha motivos para desconfiar da legitimidade do dinheiro prometido pelo PT, pois o partido parecia sério e confiável. Depois, ao receber pagamento em conta-gotas, com cheques destinados a terceiros [a empresa Garanhuns] ou em dinheiro vivo, compreendi que eram recursos de "caixa dois".

Valdemar afirmou que recebeu do PT apenas R$ 6,5 milhões (dos quais disse ter um recibo de R$ 1,7 milhão) e não R$ 10 milhões, como foi divulgado. Ele negou ter recebido R$ 12,8 milhões, conforme apareceu numa lista entregue pelo empresário Marcos Valério para a CPI.

Com o dinheiro que recebeu do PT, Costa Neto contou que pagou as dívidas que tinha assumido para a campanha de Lula, no segundo turno, na capital paulista. Costa Neto negou-se a revelar os nomes dos prestadores de serviço que foram pagos, segundo ele, pelos serviços de campanha. Também não disse quem efetuava os pagamentos. Justificou dizendo que preferia não falar "para não cometer injustiças" e prometeu entregar documentos e prestar contas posteriormente à CPI.

Costa Neto criticou a maneira como foram geridos os recursos financeiros do Partido dos Trabalhadores (PT): "Delúbio como tesoureiro era uma desorganização total. Nunca vi, em partido nenhum, pessoal da campanha de cada um dos estados vir buscar dinheiro na tesouraria nacional, como acontecia no PT. Percebi que a questão do dinheiro no PT não ia dar certo."

Lula desconhecia o acordo financeiro

O presidente do PL disse que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva desconhecia os acordos financeiros entre o PT e o PL, feitos durante a campanha eleitoral. Segundo a entrevista de Valdemar publicada pela revista Época, o presidente do PL disse que que Lula sabia de tudo. Para a CPI Valdemar explicou que Lula sabia de tudo sobre o "acordo político" (incluindo as cifras negociadas) mas não sabia detalhes sobre o acordo financeiro: "É evidente que o Lula tinha conhecimento disso, mas o Lula nunca negociou comigo".

Reportagem original
Reportagem original
Esta notícia contém reportagem original de um Wikicolaborador.

Ver também

Fontes