Publicitário Duda Mendonça disse que dinheiro ilegal pagou a campanha de Lula à Presidência do Brasil

Fonte: Wikinotícias

Brasil • 11 de agosto de 2005

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Duda Mendonça, o publicitário responsável pela campanha do Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que o custo da campanha de 2002 para a Presidência foi pago com dinheiro ilegal, oriundo de fundos não declarados (caixa 2) e de paraísos fiscais. A campanha de Lula e outras campanhas políticas do Partido dos Trabalhadores (PT) foram pagas com dinheiro ilegal, disse Duda.

As declarações de Duda ocorreram em Brasília durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga denúncias de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Estava presente à reunião, a sócia de Duda, Zilmar Fernandes da Silveira. Duda Mendonça compareceu à reunião espontaneamente, sem ter sido previamente convocado. Ele deu a entender que agiu assim porque viu que sua reputação pessoal e profissional começavam a ser atingidas.

O publicitário que há dias negava não ter recebido dinheiro do empresário Marcos Valério —suspeito de ser operador do suposto esquema de compra de votos de parlamentares brasileiros conhecido como mensalão— voltou atrás e admitiu a participação do empresário e do tesoureiro do PT Delúbio Soares no pagamento de seus serviços. Duda disse que seu trabalho para as campanhas políticas do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Presidente foram legais e que só aceitou o suposto pagamento ilegal porque não havia outra alternativa para receber o dinheiro referente à dívida do partido pelas campanhas.

Segundo Duda, sua empresa de propaganda recebeu pagamentos em dinheiro do empresário Marcos Valério e de contas de banco no exterior, de países como as Bahamas, considerado "paraíso fiscal" por causa das leis locais que facilitam a sonegação.

A sócia de Duda Mendonça, Zilmar Fernandes, disse que por volta de 2003 Marcos Valério procurou-a e sugeriu a abertura de uma conta bancária no exterior, porque disse que estava difícil fazer o pagamento da dívida do PT. Duda disse que foi ao Banco Boston e que foi aberta uma empresa nas Bahamas chamada Dusseldorf.

Duda contou que o empresário Marcos Valério foi autorizado pelo tesoureiro do PT Delúbio Soares a fazer o pagamento da dívida que tinha o PT com a sua agência de publicidade. O publicitário apresentou para a CPI dos Correios vários faxes que comprovariam a remessa de dinheiro do exterior.

O publicitário afirmou que foram depositados no exterior cerca de R$ 10 milhões. Os valores foram repassados aos poucos e chegavam através dos seguintes bancos: Florida Bank, Banco de Israel, Banco Rural Europa e Trade Link.

Duda Mendonça disse que sua empresa nunca tinha trabalhado antes com "caixa 2" e admitiu que embora pudesse ter cometido um erro fiscal, não cometeu um erro de caráter. “Eu não tinha opção. Era receber ou não receber pelo trabalho", disse Duda para justificar a sua atitude.

Duda também declarou que o PT ainda lhe deve R$ 14 milhões, pelos trabalhos de 2004, entre os quais estão as campanhas para prefeito dos candidatos do PT em Recife (João Paulo), São Paulo (Marta Suplicy), Goiânia (Pedro Wilson), Belo Horizonte (Fernando Pimentel), e Curitiba (Ângelo Vagnoni).

Repercussão

A se comprovar os fatos relatados pelo publicitário, o Partido dos Trabalhadores (PT) corre o risco de ter o seu registro cassado pela Justiça. Pelas leis brasileiras um partido político não pode receber dinheiro não contabilizado e não declarado à Justiça Eleitoral. Um partido também não pode receber dinheiro de uma conta no exterior do país.

O Presidente da CPI dos Correios Delcídio Amaral (PT-MS) disse que hoje a comissão recebeu uma "saraivada de informações". O relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) afirmou que o depoimento foi "revolucionário".

Para o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) está claro que uma parte da campanha de Lula à Presidência foi paga com recursos financeiros obtidos ilegalmente. Ele afirmou: O que é gravíssimo é que o partido operou uma conta no exterior, algo vedado pela legislação. O PT corre sério risco de perder seu registro.

Muitos parlamentares no Congresso e no Senado Federal começaram a comentar sobre a possibilidade de impeachment do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse:

Bastou um depoimento verdadeiro para o país ser jogado no limiar de uma crise política sem precedentes. Temos que buscar a melhor saída para o país, todas as alternativas devem ser discutidas, lamentavelmente até a do impeachment. A crise se agudizou de tal forma que é possível que se conclua que esta possa ser a melhor alternativa, embora eu não a deseje.

Vários políticos do Partido dos Trabalhadores choraram hoje no Congresso Nacional, como Walter Pinheiro (PT-BA) e Orlando Desconsi (PT-RS). Para a deputada Iara Bernardi (PT-SP) o Presidente Lula tem a obrigação de fazer um pronunciamento à população: Construímos juntos o partido com ele e, se estamos exigindo explicações do líderes do PT, Lula não pode ficar de fora.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) disse: Quem vendeu o presidente Lula como a mudança e a solução ética para o Brasil compromete o presidente, porque assumiu hoje pelo menos três crimes: contra a ordem tributária, contra o sistema financeiro e de lavagem de dinheiro.

O Presidente do Partido dos Trabalhadores e ex-Ministro da Educação, Tarso Genro, já tinha reconhecido o financiamento ilegal de algumas atividades do partido. Numa entrevista para o Jornal da Catalunha, Genro disse: uma visão pragmática da governabilidade nos levou a estabelecer alianças, com forças de centro-direita, que não eram transparentes. Assim se criou, com o ex-tesoureiro Delubio Soares à frente, uma estrutura informal paralela de poder que não obedecia a lógica do partido e que desta maneira financiava suas atividades. Seu alcance ainda não foi todo esclarecido. Ainda estamos verificando a profundidade do fato.

Tarso Genro explicou que o financiamento se realizava com empréstimos outorgados às empresas de Marcos Valério, e afirmou que seu partido pode levar anos para recuperar a credibilidade.

O Presidente do Senado Federal brasileiro, Senador Renan Calheiros demonstrou preocupação com as revelações do publicitário Duda Mendonça. Calheiros disse: O depoimento nos remete a um cenário pantanoso de ilegalidade, incompatível com a legislação brasileira. Sonegação fiscal, evasão, conta no exterior, são coisas que precisam ser investigadas o mais rapidamente possível. Nada pode ficar sem resposta. Ele preferiu não comentar sobre a possibilidade de impeachment para o Presidente da República.

Pronunciamento à nação

Espera-se que o Presidente Lula fale à nação em rede nacional na sexta-feira (12).

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) pede para que o Presidente fale a verdade nesse pronunciamento. Ele advertiu:

A esta altura, o presidente Lula está atingido. Dezoito deputados do PT subiram à tribuna e exigiram uma tomada de posição enérgica, alegando que não admitem o que está acontecendo. O próprio líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), garantiu que nada sabia. A hora do presidente da República falar é essa. A partir da segunda-feira as investigações da CPI tomarão outro rumo.

Contra Lula há uma suspeita sobre um empréstimo não bem explicado de R$ 28 mil que o Partido dos Trabalhadores (PT) lhe fez. A oposição suspeita de que esse empréstimo utilizou dinheiro do "caixa 2" do partido. O PT diz que o partido tem inúmeras outras fontes de recursos e que pode explicar o empréstimo.

Após a notícia de que dinheiro ilegal fôra usado na campanha de Lula ter sido divulgada por várias agência de notícia e pela internet, Duda Mendonça procurou resguardar o Presidente e disse acreditar ser possível que o dinheiro usado nas campanhas das eleições de Lula e do senador Aloízio Mercadante (PT-SP) terem sidos recursos oficiais e contabilizados.

O empresário Marcos Valério, ao tomar conhecimento de que Duda Mendonça disse que recebera dinheiro oriundo de paraísos fiscais, compareceu à reunião da CPI do Mensalão para prestar esclarecimentos. Valério disse que nunca sugeriu a Duda para que ele abrisse contas no exterior.

Fontes