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Onda de calor de 2024 dizimou corais no Nordeste, mas não em outras regiões do Brasil

De Wikinotícias
Coral Acropora branqueado com coral normal ao fundo

18 de setembro de 2025

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A onda de calor que varreu os oceanos do planeta em 2023 e 2024 deixou cicatrizes profundas em alguns recifes de coral brasileiros. A região Nordeste foi a mais impactada, segundo um novo estudo publicado na revista Coral Reefs. Em Maragogi, no norte de Alagoas, o excesso de calor dizimou quase 90% da cobertura de corais da região. Em São José da Coroa Grande, no sul de Pernambuco, mais da metade dos corais morreram. Nas outras regiões monitoradas, por outro lado, o impacto foi mínimo ou até mesmo nulo, em termos de mortalidade.

Os dados fazem parte do primeiro levantamento sistemático já realizado sobre os impactos de um evento global de branqueamento sobre os recifes de coral brasileiros. O branqueamento é um fenômeno induzido pelo excesso de calor na água do mar, que faz com que os corais expulsem as microalgas fotossintetizantes (chamadas zooxantelas) que vivem dentro de suas células e produzem grande parte da energia necessária à sua sobrevivência. Quando isso ocorre, os corais perdem a cor (“branqueiam”) e podem vir a morrer, dependendo da intensidade e da duração da onda de calor, entre outros fatores.

Os pesquisadores monitoraram 18 ecossistemas recifais ao longo de quase toda a costa brasileira, distribuídos entre Ceará e Santa Catarina, além de duas ilhas oceânicas (Arquipélago de Fernando de Noronha e no Atol das Rocas), entre agosto de 2023 e dezembro de 2024. As observações foram feitas “em tempo real”: antes, durante e depois do pico de branqueamento, que ocorreu entre abril e junho de 2024 — o ano mais quente já registrado na história recente do planeta, tanto em terra quanto no mar.

Os resultados desse monitoramento, descritos no artigo da Coral Reefs, incluem boas e más notícias. A má notícia é que quatro pontos da costa nordestina registraram mortalidade em massa de corais: Maragogi, em Alagoas (88%), São José da Coroa Grande e Porto de Galinhas, em Pernambuco (53% e 28%, respectivamente), e Rio do Fogo, no Rio Grande do Norte (38%); o que sugere que essa região foi fortemente impactada pelo branqueamento de uma forma geral. (Os números entre parênteses representam a redução na extensão da cobertura de corais vivos nos recifes de cada localidade.)

Em média, considerando todos os sítios de monitoramento, os corais brasileiros foram expostos a 88 dias de estresse térmico nesse período, o que equivale a três meses de temperaturas acima do normal. O branqueamento afetou cerca de um terço (36%) das áreas avaliadas, com diversas espécies de coral impactadas.


A boa notícia, por enquanto, é que na maioria (11) dos pontos monitorados não houve perda de cobertura coralínea, apesar de os corais terem sido submetidos a condições de temperatura que, pelas métricas internacionais, deveriam ter resultado em taxas potencialmente elevadas de branqueamento e mortalidade. Nessas localidades, os corais branquearam, mas não morreram, e recuperaram suas zooxantelas depois que a temperatura baixou. Isso inclui todos os pontos do sul da Bahia para baixo e do Rio Grande do Norte para cima, incluindo o Banco dos Abrolhos, o Arquipélago de Fernando de Noronha e o Atol das Rocas — três localidades icônicas e importantíssimas para a biodiversidade marinha do Atlântico Sul. Em outros três pontos — um em Sergipe e dois na Bahia — foi registrada apenas uma mortalidade leve, com reduções de cobertura coralínea da ordem de 5%.