O desafio de entender o consumo de sal pelos brasileiros
10 de janeiro de 2025
“O consumo de sal e sódio está relacionado a fatores socioculturais, econômicos e regionais, o que torna sua avaliação mais complexa do que apenas medir a ingestão diária. Por isso, qualquer ferramenta usada para essa investigação deve considerar aspectos comportamentais e perceptivos da população”, explica Alícia Tavares da Silva Gomes, autora da pesquisa defendida como tese de doutorado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, sob orientação da professora Patrícia Constante Jaime. Um artigo com resultados do trabalho foi publicado no Jornal of Clinical Hipertension.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo excessivo de sódio representa um grave problema de saúde pública global por estar associado ao aumento de doenças cardiovasculares, problemas renais, mortes precoces e elevados custos para os sistemas de saúde. Os brasileiros consomem quase o dobro da quantidade de sal recomendada pela OMS, que é de até 5 gramas por dia de sal, o equivalente a menos de uma colher de chá rasa. “A maioria das pessoas desconhece o quanto é sua ingestão média diária destes nutrientes presentes em quase todos os alimentos, principalmente nos ultraprocessados que trazem altas taxas de sódio em sua composição como os refrigerantes, pizzas e salgadinhos de pacotes”, explica a pesquisadora.
Instrumento foi aplicado e testado em moradores do município de Jundiaí, São Paulo, quando também foram coletados dados sociodemográficos e condições de saúde da população.
A amostra era composta de 422 participantes, indivíduos entre 20 e 59 anos, com distribuição igual entre os sexos (50% feminino e 50% masculino). Quanto à escolaridade, 22% tinham ensino básico, 45% ensino médio e 33% ensino superior. Em relação ao estado civil, 55% eram casados, enquanto 45% eram solteiros, divorciados ou viúvos. Em termos de saúde, 16% dos entrevistados relataram diagnóstico de hipertensão, 8% de diabete, 18% de colesterol alto e 7% apresentaram outras doenças cardiovasculares. Durante a gravidez, 3% relataram diabete.
A partir dos dados sociodemográficos no grupo de moradores de Jundiaí, Alícia Gomes fez uma análise descritiva classificando pontuações baixas para indicar práticas não saudáveis, que possivelmente estariam associadas à maior ingestão de sódio, e pontuações altas refletindo práticas saudáveis, possivelmente associadas à menor ingestão de sódio.
Verificou-se que mulheres, pessoas mais velhas e com maior nível de escolaridade alcançam maiores “escores” pelo instrumento, demonstrando que esse perfil de pessoas possui práticas mais saudáveis de vida e provavelmente fazem menor ingestão de sódio. Segundo a pesquisadora, esse resultado reforça dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Brasil (2013) que, ao analisar as concentrações urinárias de sódio e creatinina, apontaram uma ingestão média diária de sal maior entre os homens (9,63 gramas/dia) do que em mulheres (9,08 gramas/dia).
Outro dado importante encontrado foi que os participantes que tinham diagnóstico de hipertensão e colesterol alto também apresentaram pontuações significativamente maiores, e neste caso, possivelmente devido a mudanças no estilo de vida, conforme recomendado pelas diretrizes não farmacológicas mais recentes.
A pesquisadora destaca que a validade dos dados e a aplicação eficiente de recursos em pesquisas dependem do uso de ferramentas de coleta desenvolvidas com critérios rigorosos, como no caso de seu estudo. Ela defende que, para reduzir o consumo excessivo de sal, devem ser implementadas estratégias como campanhas nacionais de conscientização sobre os riscos à saúde, alinhadas às recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, que orienta políticas de Alimentação e Nutrição no País. O projeto teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Fontes
[editar | editar código-fonte]- ((pt)) Ivair Ferreira. O desafio de entender o consumo de sal pelos brasileiros — Jornal da USP, 8 de janeiro de 2025
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