ONG aponta para os altos índices de violência sexual em escolas no Equador

Fonte: Wikinotícias

10 de dezembro de 2020

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Em seu relatório "É uma batalha constante: violência sexual na vida escolar e a luta de jovens sobreviventes por justiça no Equador" (em inglês, It’s a Constant Fight: School-Related Sexual Violence and Young Survivor’s Struggle for Justice in Ecuador a ONG Human Rights Watch), a ONG Human Rights Watch (HRW) aponta para o fracasso do governo do Equador em proteger os estudantes do país contra a violência sexual.

De acordo com a HRW, o governo reportou que nos últimos seis anos 4.221 estudantes sofreram violência sexual vinculada à vida escolar. "Graves lacunas nos sistemas educacional e de justiça do Equador deixam muitas crianças e adolescentes desprotegidos, expostos a abusos horríveis", disse a coordenadora do relatório, Elin Martinez.

Problema antigo

Segundo a ONG, a violência sexual nas escolas do país "é um problema de longa data". Em 2017, após um caso notório, o do abuso sexual de 41 crianças na Academia Aeronáutica “Mayor Pedro Traversari”, uma escola particular no sul de Quito, autoridades criaram a comissão multipartidária nomeada AAMPETRA - abreviatura do nome da escola onde o caso aconteceu (veja depoimentos dos estudantes aqui) para investigar o assunto.

Os abusos, segundo Martinez, acabam "afetando a vidas inteiras, incluindo os direitos à educação, à justiça e os direitos sexuais e reprodutivos" dos estudantes.

A difícil recuperação após os abusos

Segundo o artigo Horror en un aula de clases de Quito, a maioria das vítimas de abusos não consegue se recuperar. No caso Aampetra, por exemplo, segundo o texto "um dos 41 pintou seu quarto de preto, um dos 41 não quis acender a luz, um dos 41 chorou ao passar perto da escola e vários dos 41 tentaram cometer suicídio".

No texto "Efeitos de Vivências Traumáticas em Crianças" no website especializado Psiqweb "em graus muito variáveis de adaptação e superação, crianças que sofreram abuso e maus-tratos correm maior risco de desenvolverem os seguintes quadros: Transtorno de Estresse Pós-Traumático, os Transtornos de Ansiedade, Transtornos Depressivos, Transtornos Comportamentais, Transtorno por Abuso de Drogas, Problemas de Comportamento Sexual, Somatizações e outros".

O Caso Aampetra

Entre 2010 e 2011, 41 crianças que tinham entre 10 e 11 anos, sofreram violência sexual por parte do professor José Luis Negrete Arias na Academia Aeronáutica “Mayor Pedro Traversari”, em Quito.

Os abusos aconteciam na sala de aula. Na sala, que ficava às escuras após as cortinas serem fechadas, ele "insultou, torturou e abusou sexualmente de todos os alunos sem que ninguém percebesse", diz o artigo Horror en un aula de clases de Quito, que também reporta que "o professor obrigou os alunos a repetir cenas pornográficas dos filmes que assistiam na aula. Ele os forçou a se despir. Ele tocou as meninas (...) espancou seus alunos (..) estuprou uma estudante".

Arias, que, como é comum nestes casos, ameaçava as crianças para silenciá-las, acabou descoberto em meados de 2011 após uma mãe notar que a filha estava voltando da escola com hematomas nos braços.

Arias chegou a fugir em 2012, mas foi capturado em 2015. Estava então na lista da Interpol e na lista de "mais procurados" do país.

Foi condenado a 16 anos de prisão pelo estupro de uma criança de 7 anos e por atentado ao pudor contra 43 estudantes. A sentença foi homologada pela Câmara Criminal do Tribunal Provincial de Pichincha em 23 de maio de 2016.

Em 2017 ele ainda enfrentava um julgamento pelo estupro de outra criança.

Fontes