Nicotina é até seis vezes maior em quem fuma cigarro eletrônico do que 20 cigarros comuns por dia
26 de novembro de 2024
O Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC) da USP, em parceria com a Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo e o Laboratório de Toxicologia da Rede Premium de Equipamentos Multiusuários da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), divulgou os resultados de uma pesquisa inédita sobre o uso de cigarro eletrônico. A análise revelou dados alarmantes: entre os participantes que relataram alto consumo diário de cigarro eletrônico, os níveis de nicotina chegavam estar até seis vezes mais elevados do que os encontrados entre usuários de cigarro convencional que fumavam em média 20 cigarros por dia. Essa diferença significativa sugere que os cigarros eletrônicos podem representar um risco substancialmente maior para a dependência.
O estudo foi realizado com frequentadores de bares, shows e eventos em diversas cidades do Estado de São Paulo, incluindo a capital, e teve como foco a avaliação do comportamento, percepção de risco, perfil socioeconômico e hábitos dos usuários desses dispositivos, também conhecidos como vape. Além disso, o estudo mediu os níveis de nicotina e cotinina presentes nos produtos consumidos.
A pesquisa, intitulada Estudo do Cigarro Eletrônico InCor, VISA e Toxicologia, foi coordenada pela professor Jaqueline Scholz, diretora do Núcleo de Tabagismo do InCor.
A professora diz que nunca viu valores tão altos de nicotina nos pacientes de cigarros convencionais como os detectados durante esse estudo em usuários de vape. Em um dos participantes, foram encontrados 2400µg de nicotina na corrente sanguínea, o que, em comparação aos 396µg de um fumante de 20 cigarros convencionais por dia, é seis vezes maior. O cheiro agradável e a falta de sensação de ardência na laringe da fumaça são facilitadores do uso do cigarro eletrônico. No entanto, Scholz chama a atenção para a “falta de conhecimento e entendimento da população sobre os riscos associados ao vape”.
Apesar dos efeitos ainda não amplamente entendidos, ela diz que a fumaça desses dispositivos “não se compara à do cigarro convencional, porque tem outros produtos químicos, como partículas ultrafinas, que vão para corrente sanguínea”. Para entender o cenário desse produto, a Vigilância Sanitária realizou a coleta de material biológico de fumantes restritos aos eletrônicos e um questionário, no qual obteve 417 participantes elegíveis.
O estudo também apontou que a maioria dos usuários tentou abandonar o dispositivo, mas revelaram não ter tido sucesso, evidenciando a dependência e intensificando os impactos emocionais.
Os resultados completos foram apresentados por Maria Cristina Megid, responsável pela equipe de coleta de dados da Vigilância Sanitária, e Marcelo Filonzi dos Santos, do Laboratório de Toxicologia da Rede Premium de Equipamentos Multiusuários da FMUSP.
Fontes
[editar | editar código-fonte]- ((pt)) Jean Silva. Nicotina é até seis vezes maior em quem fuma cigarro eletrônico do que 20 cigarros comuns por dia — Jornal da USP, 25 de novembro de 2024
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