Idosos negros apresentam piores condições de saúde e menor expectativa de vida em comparação à população não negra
12 de novembro de 2024
Analisar se o acesso aos direitos assegurados pelo Estatuto da Pessoa Idosa ocorre de forma desigual entre as populações negra e não negra, assim como entre homens e mulheresé o foco do texto para discussão “Acesso aos direitos estabelecidos pelo Estatuto da Pessoa Idosa: diferenciais por raça/cor”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A publicação revela, por exemplo, o perfil das causas de morte entre a população idosa em 2022, em que causas externas ou não naturais desempenham um papel significativo no total de óbitos no Brasil: 3,7% desses óbitos poderiam ter sido evitados, sendo mais frequentes entre os homens, que representam 4,3% do total. Entre essas causas, destacam-se as quedas, seguidas por acidentes de transporte e eventos de intenção indeterminada, além de agressões, que juntas representam 70,7% do total de óbitos evitáveis.
Ao atingir os 60 anos, um idoso do sexo masculino perde, em média, 0,5 ano de vida devido a essas causas, e a probabilidade de chegar aos 80 anos é reduzida em cinco pontos percentuais: em vez de 44%, passa a ser de 39%. Essas diferenças ainda são maiores se se considerar a raça/cor, sendo que a interseção entre sexo e raça resulta em uma diferença de 12,4 anos na idade média ao morrer entre mulheres não negras e homens negros. Os idosos negros relatam condições de saúde mais precárias e mais agressões pelo meio ambiente, refletidas no aumento das internações por quedas e acidentes de transporte.
Esse grupo também é o que mais utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS). Essa maior utilização do SUS entre idosos negros pode estar refletindo suas condições socioeconômicas desfavoráveis, desigualdades estruturais e dificuldades de acesso a serviços sociais, presentes desde a infância.
"O acesso aos direitos estabelecidos pelo Estatuto da Pessoa Idosa não é desfrutado da mesma forma pelos idosos brasileiros. Como a população idosa é heterogênea, do ponto de vista de gênero, raça, território, dentre outras marcações, as políticas públicas deveriam considerar as suas diferenças. Por exemplo, o direito à vida beneficia muito mais as mulheres não negras do que os homens negros.
Por outro lado, as mulheres são mais atingidas por quedas, dada a sua constituição genética agravada pelo meio ambiente hostil; mulheres negras são as que mais reportaram experimentar situações de ofensas, humilhações, ameaças ou outro dano emocional”, destaca Ana Amélia Camarano, técnica de planejamento e pesquisa do Ipea, coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações e autora do estudo.
A publicação reforça a necessidade ações de promoção e prevenção da saúde da população idosa negra, com especial atenção ao homem negro, pois são eles os que mais procuram atendimento na rede SUS e os que mais ficam internados, comparado com os idosos não negros.“As diferenças regionais também precisam ser consideradas. Um residente da região Norte envelhece em condições mais adversas do que o residente na região Sudeste. O primeiro vive em ambientes onde a infraestrutura urbana, tais como iluminação pública, rampa, meio fio/guia, bueiro/boca de lobo, etc é menos disponível”, finaliza Ana.
Fontes
[editar | editar código-fonte]- ((pt)) Idosos negros apresentam piores condições de saúde e menor expectativa de vida em comparação à população não negra — Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 11 de novembro de 2024
Essa notícia, ou partes dela, foi extraída do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). |