Gisèle Pelicot faz “vergonha mudar de lado” após mais de 50 serem considerados culpados de estupro
21 de dezembro de 2024
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Em 19 de dezembro, 51 homens foram considerados culpados pelo estupro de Gisèle Pelicot, incluindo seu ex-marido Dominique Pelicot, que orquestrou as agressões. Dominique recebeu a sentença máxima nacional de 20 anos, enquanto outros foram sentenciados a 3-15 anos de prisão.
A decisão de Gisèle Pelicot de abrir mão de seu direito ao anonimato quando ela apareceu pela primeira vez no tribunal em setembro foi amplamente elogiada como um ato de imensa coragem, visando fazer a "vergonha mudar de lado". No início do julgamento, ela disse: "Quero que todas as mulheres que sobreviveram ao estupro possam dizer: Gisèle Pelicot fez isso, isso pode ser feito". Sua escolha foi descrita como transformadora, com comentaristas feministas e políticos chamando o caso de histórico e potencialmente crucial para remodelar a maneira como a França aborda o estupro e a violência sexual.
Em uma conversa com a organização de mídia L'Humanité, a historiadora feminista Christelle Taraud destacou que o caso trouxe múltiplas questões de violência sexual e de gênero ao foco, exigindo ações mais decisivas e responsabilização dos legisladores. Embora o caso tenha enfatizado a importância de abordar a submissão química em casos de estupro, Taraud explicou que suas implicações vão muito além disso. "Foi um julgamento de um sistema patriarcal que permite aos homens acreditar que todas as mulheres de sua família estão à sua disposição, para usar e abusar como quiserem", afirmou. Taraud também observou que, embora as dezenas de homens que foram a julgamento tenham sido justamente condenados como estupradores, Dominique Pelicot deveria ter enfrentado acusações ainda mais graves, especificamente tentativa de feminicídio.
Entre 2011 e 2020, Dominique Pelicot drogou sistematicamente sua então esposa Gisèle, administrando altas doses que a deixaram desorientada e sofrendo de perda de memória tão severa que ela suspeitou que tinha uma doença neurológica. Ele então tramou um esquema assustador com aproximadamente 70 homens — abrangendo várias idades e classes — para estuprar Gisèle em sua casa de família em Mazan, perto de Avignon, enquanto ela estava inconsciente. Ele também filmou as agressões, não deixando dúvidas sobre a gravidade de suas ações ou a consciência dos outros homens sobre a situação.
Um potencial ponto de virada no combate à cultura da violação
Embora o resultado geral do julgamento tenha sido bem recebido, redes feministas e os filhos de Gisèle Pelicot expressaram preocupações de que as sentenças para os coagressores foram muito brandas, destacando a necessidade de maior apoio às sobreviventes de estupro na França. "Hoje, a vergonha mudou de lado, mas a luta contra a impunidade apenas começou", disse Anne-Cécile Mailfert da Women's Foundation (Fondation des Femmes). Embora muitos casos de estupro que chegam a julgamento na França resultem em condenações, coletivos feministas apontam que 94% das queixas de estupro nunca chegam ao tribunal. Em colaboração com sindicatos, esses grupos anunciaram uma campanha defendendo uma nova legislação que visa trazer justiça a todas as sobreviventes de violência de gênero.
Como a campanha deve ganhar força, a esquerda francesa também saudou o resultado do julgamento de Gisèle Pelicot, descrevendo-o como um ponto de virada. Manon Aubry, representante da France Unbowed no Parlamento Europeu, chamou-o de um momento histórico “que deve nos fazer pensar sobre os perpetradores, o tratamento das vítimas e o conceito de consentimento em um país onde a vasta maioria das vítimas nunca recebe justiça”.
Da mesma forma, Manuel Bompard, da France Unbowed, expressou esperança de que o julgamento de estupro de Mazan marcaria um ponto de virada no combate à cultura do estupro. “Obrigado, Madame”, Bompard escreveu em uma mensagem, reconhecendo mais uma vez a coragem de Gisèle Pelicot.
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[editar | editar código-fonte]Fontes
[editar | editar código-fonte]- ((en)) Gisèle Pelicot makes “shame change sides” as over 50 found guilty of rape — Peoples Dispatch, 19 de dezembro de 2024 Conforme nota no Rodapé do portal Peoples Dispatch, o material está sob uma licença CC BY-SA 4.0. Revise a licença antes de usar o material.