Ex-ditador de Cuba muda de opinião e ataca o novo presidente dos Estados Unidos

Fonte: Wikinotícias
Fidel Castro em 2003.

Havana, Cuba • 18 de fevereiro de 2009

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Depois de passar o ano de 2008 dando declarações amistosas e simpatias, virando espécie de “cabo eleitoral” ao então candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata, Barack Obama, sobre a possibilidade que caso seja eleito, iria suspender o embargo comercial à Cuba desde 1962 e que os Estados Unidos governado pelo Obama melhoraria relação com Cuba e a América Latina, ao mesmo tempo criticava o candidato à presidência pelo Partido Republicano, John McCain, pelos ataques ao governo cubano, agora o ex-ditador de Cuba, Fidel Castro passou a atacar Obama.

Nas últimas semanas de fevereiro de 2009, Fidel Castro passou a criticar o recém-governo Obama em jornais estatais cubanos, já que está doente e que não pode dar declarações públicas, segundo o governo cubano.

No dia 9 de fevereiro, em artigo recentemente publicado, afirma que a equipe de políticos e economistas não são suficientes para resolver a pior crise econômica da história, desde a queda da Bolsa de Nova York, em 1929, que está sendo chamada de “Crise Financeira Internacional”. Comparou Obama ao ativista de direitos humanos e pastor Martin Luther King:

Se a extrema direita se satisfez com a eleição de Obama comparada a imagem de Martin Luther King, grande líder dos Direitos Humanos, não parece haver mais esse apoio na prática, dada a proteção que tem acompanhado o presidente depois das eleições, dia e noite.

Fidel Castro
Jornais de Cuba sobre a eleição de Obama

No dia da eleição, dia 4 de novembro, toda imprensa controlada pelo governo cubano, publicou mais um elogio de Fidel Castro ao Barack Obama e os ataques contra John McCain, demonstrando claramente apoio ao Obama, chamando McCain de velho sem saúde, que ironicamente o ex-ditador tem:

Obama é sem dúvida mais inteligente e culto que seu adversário republicano (...) [O democrata] mesmo sendo de origem negra, com feições negras, conseguiu se graduar em um centro de ensino reconhecido, com notas brilhantes (...) [A terça-feira] será um dia de grande importância (...). Ao povo dos Estados Unidos preocupa mais a economia que a guerra do Iraque. McCain é velho, inculto, pouco inteligente e sem saúde. (...) Obama é considerado o melhor orador político dos Estados Unidos nas últimas décadas. Sua compatriota Toni Morrison, Prêmio Nobel de Literatura em 1993, [...] o classifica como o futuro presidente e poeta da nação.

Castro afirmou ainda que Obama tem idéias bem articuladas e não vacila ao afirmar que a população, republicana ou democrata, acima de tudo é americana. Cidadãos, que segundo Obama, são os mais produtivos do mundo. Diz ainda que o democrata é corajoso, que já correu e ainda correrá riscos, em um país onde um extremista tem permissão de comprar uma arma sofisticada em qualquer esquina, como acontecia na primeira metade do século 18 na costa oeste do território.

Ao final do artigo, Castro afirma que as preocupações com os problemas do mundo não "ocupam um lugar importante na mente de John McCain que, como piloto de guerra, descarregou toneladas de bombas sobre a cidade de Hanói, no Vietnã, sem qualquer peso na consciência".

Castro disse que, apesar de tornar públicas suas opiniões, seu comportamento em relação às eleições americanas é neutro. O ex-presidente ainda ironizou. "Minha postura não é de ingerência em assuntos internos dos Estados Unidos, como diria o Departamento de Estado americano, tão respeitoso quanto à soberania dos demais países", afirmou.

Em 5 de novembro, um dia depois que Obama foi eleito, os meios de comunicação oficiais cubanos destacam o fato, mas põem em dúvida uma real "mudança":

O tablóide "Granma", porta-voz oficial do governante Partido Comunista, dedica à eleição americana uma de suas oito páginas e um quadro em primeira plano, ambos com o título "Obama na Casa Branca". Na legenda da foto do futuro presidente pergunta: "O candidato da mudança?". O jornal acrescenta que Obama chegou ao pleito "com o respaldo da classe dominante dos Estados Unidos" e "da maioria do 'establishment" democrata'". Sobre o derrotado candidato republicano, John McCain, o "Granma" comenta que "a explosão da crise financeira representou o fim da linha" para suas aspirações.
A agência estatal "Prensa Latina" destacou que Obama "será o primeiro afro-descendente a ocupar a presidência" de seu país, "que herda com suas principais estatísticas no vermelho e enormes desafios".Os discursos de Obama "foram os mais ousados ao abordar assuntos domésticos e de política externa, embora sem sair dos limites do chamado 'establishment'", afirmou.
O jornal "Juventud Rebelde" abre com o título "Barack Obama, presidente dos Estados Unidos", e segue com o subtítulo "John McCain lhe concede o triunfo em discurso em que chamou à unidade". O diário destaca que estas eleições foram as mais caras dos EUA (US$ 2,4 bilhões).
Os ataques e críticas de Fidel Castro ao Barack Obama

No dia 8 de novembro, afirmou que os Estados Unidos, que acabam de escolher o democrata Barack Obama como próximo presidente, mantiverem o embargo comercial que impõem à ilha desde 1962 seguirão com uma "política inútil" por mais meio século:

Há quem ainda sonhe em colocar Cuba de joelhos, mostrando o criminoso bloqueio como instrumento de política externa dos Estados Unidos contra nossa pátria. Se esse país (EUA) voltar a cair em tal erro, poderá permanecer por mais meio século aplicando essa política inútil com relação a Cuba, caso o império consiga durar tanto tempo.

O líder cubano também comentou em seu artigo sobre o Furacão Paloma, que se aproxima de Cuba, e disse que rejeitará novamente a ajuda oferecida pelo presidente em fim de mandato dos Estados Unidos, George W. Bush:

Novamente teremos uma conduta digna se o chefe do império que foi o principal impulsor do bloqueio genocida contra nossa pátria oferecer outra uma vez piedosa ajuda. Com segurança ela será rejeitada (...) O que nosso povo exige é o fim do bloqueio contra Cuba, e agora mais que nunca, quando a exigência é unânime em toda a comunidade internacional, em meio à crise financeira que castiga todos os países do planeta, desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Em 15 de novembro, em coluna publicada na internet, sem dizer o nome do presidente eleito dos Estados Unidos, levantou dúvidas sobre o quanto um novo presidente pode mudar a política americana. A publicação coincidiu na mesma semana em que pareceu magro e cansado em uma imagem com o líder da Igreja Ortodoxa russa. Fidel disse que "muitos sonham que, com a simples mudança de comando na liderança do império, ele será mais tolerante e menos bélico":

Os pensamentos mais íntimos do cidadão que irá receber o leme ainda são desconhecidos (...) seria muito ingênuo acreditar que as boas intenções de uma pessoa inteligente possam mudar o que séculos de interesses e egoísmos criaram. A história humana mostra algo diferente.

No dia 30 de janeiro, depois da guerra entre Israel e Hamás na Faixa de Gaza, acusou os Estados Unidos de "compartilhar o genocídio contra os palestinos", defendeu que Cuba não mudará seu sistema político para recuperar a ilha de Guantánamo, onde os EUA mantém presos acusados de terrorismo, uma semana depois ter elogiado.

O ex-ditador acusou sem provas, que Obama e o vice-presidente Joe Biden, decidiram "apoiar decididamente a relação entre Estados Unidos e Israel, e consideram que o incontrovertível compromisso no Oriente Médio deve ser a segurança de Israel". Pediu que o presidente devolver a Base Naval de Guatánamo:

Os Estados Unidos nunca se distanciarão de Israel, e seu presidente e vice-presidente 'acreditam decididamente no direito de Israel a proteger seus cidadãos. É a maneira de compartilhar do genocídio contra os palestinos em que nosso amigo Obama caiu. (...) Após sua posse, Barack Obama declarou que a devolução do território ocupado pela base naval de Guantánamo a seu legítimo dono deveria ser contrabalançada, primeiramente, com o menor comprometimento ou não da capacidade defensiva dos Estados Unidos (...) deveria considerar sob que concessões a parte cubana aceitaria essa solução, o qual equivale à exigência de uma mudança em seu sistema político. Manter uma base militar em Cuba contra a vontade de nosso povo viola os mais elementares princípios do direito internacional. É uma faculdade do presidente dos Estados Unidos acatar essa norma sem condição alguma (...).

Outra crítica, feita no dia 6, ao site Cubadebate, disse que está perdendo a virgindade os objetivos do Obama na Ilha de Cuba. A declaração foi uma resposta ao chefe-de-gabinete de Obama, Rahm Emanuel, que afirmou no dia 5 que o interesse dos EUA na ilha é a comunidade cubano-americana:

Assim, mais cedo que tarde, vai perdendo a virgindade a política de Obama, pois os quase 12 milhões de cubanos que habitam a ilha não o interessam.

Fidel Castro
Antes, Fidel Castro era de elogio e simpatia ao Barack Obama

Em artigo publicado no site Cubadebade no dia 5 de dezembro do ano passado, o ex-ditador cubano elogiou o então presidente eleito e afirmou que pode se reunir com o futuro ocupante da Casa Branca "onde ele quiser". "Com Obama posso me encontrar onde ele desejar, já que não somos defensores da guerra, nem da violência", afirmou. Apesar de se mostrar aberto a conversas com Obama, criticou as escolhas de Hillary Clinton para a cargo de secretária de Estado e a manutenção do secretário de Defesa do governo Bush, Robert Gates, no posto:

[Hillary Clinton] foi rival do presidente eleito e esposa do presidente [Bill] Clinton, que sancionou as leis extraordinárias Torricelli e Helms Burton contra Cuba.

Segundo ele, a futura secretária de Estado é favorável ao embargo econômico contra a ilha:

Durante a disputa pela nomeação do partido democrata, ela se comprometeu com as leis do embargo e bloqueio econômico. Não me queixo, simplesmente só faço constar.

Quanto a Gates, Fidel disse que chama a atenção o fato do secretário de Defesa ser republicano e não democrata:

Ele é a única pessoa que já ocupou cargos de secretário de Defesa e diretor da Agência Nacional de Inteligência em governos de ambos os partidos.

Fidel afirmou que, durante a campanha americana que culminou com a vitória de Obama, não deixou "de ser amável com o candidato democrata, em quem via muito mais capacidade e domínio da arte da política que nos adversários, não só no partido oposto, mas também no seu". No entanto, considerou que "sem a crise econômica, sem a televisão e sem a internet, Obama não ganharia as eleições vencendo o onipotente racismo".

Sua vitória também não aconteceria sem os estudos que realizou primeiro na Universidade da Columbia, onde se graduou em Ciências Políticas, e depois na de Harvard, onde obteve o título de Direito, o que lhe permitiu se transformar em um homem da classe 'modestamente rica', com apenas alguns vários milhões de dólares.

Um dia depois que Obama assumiu a presidência, dia 21 de janeiro, em artigo do jornal estatal Granma, no artigo “Refleciones de Comandante-en-Jefe” (Reflexões do Comandante-em-Chefe, em espanhol) , elogiou o novo presidente ao mesmo tempo em que demonstrou receio sobre sua gestão, no primeiro artigo da coluna que escreveu nas últimas cinco semanas. Disse que não tem "a menor dúvida sobre a honestidade com que Obama" expressou suas idéias durante a posse, mas que "apesar de suas nobres intenções", ainda restam muitas dúvidas a serem esclarecidas.

No mesmo dia, o ex-ditador recebeu a visita da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, que havia visitado. Sobre as dúvidas que tem sobre Obama e que disse ter analisado com Cristina, Fidel diz: "Como exemplo, me perguntava: como poderia um sistema esbanjador e consumista por excelência preservar o meio ambiente?". Fidel disse que Cristina "é uma pessoa de convicções profundas", e destacou que "não houve debates" durante a reunião com ela, que finalizou uma visita de três dias à ilha. "Muitos outros aspectos de política nacional e internacional de Cuba e da Argentina foram abordados", afirmou Fidel, que, segundo Cristina, está "muito bem". Disse que a conversa com a governante argentina "durou 40 minutos" e que "a troca de idéias foi intensa e interessante".

No dia 23, em artigo divulgado na internet, afirmou que ainda está bem de saúde, mas pediu aos atuais dirigentes que mantenham o regime comunista na ilha caso seu estado de saúde piore ou morra e ainda falou do Obama. Fidel disse que não deverá estar vivo quando terminar o primeiro mandato de Obama, daqui a quatro anos:

Tive o raro privilégio de observar os acontecimentos durante tanto tempo. Recebo as informações e medito, sossegadamente, sobre os acontecimentos. Espero não desfrutar de tal privilégio dentro de quatro anos, quando o primeiro mandato presidencial de Obama tiver terminado (...) Eu estou bem, mas insisto: nenhum deles deve se sentir comprometido por minhas eventuais 'Reflexões' [artigos], o agravamento da minha doença, ou minha morte.

Ele ainda reconhece que diminuiu o ritmo de publicação de seus artigos na imprensa estatal cubana:

Reduzi as 'Reflexões', tal como me havia proposto para o presente ano, para não interferir nem atrapalhar os companheiros do Partido e do Estado nas decisões constantes que devem tomar [frente à crise mundial]

Histórico

É estranho que um governo ou grupo terrorista, declaramente inimigos dos Estados Unidos, dão declarações a favor de Obama, já que o então presidente George W. Bush era duramente criticado no exterior e até a popularidade era baixa e John McCain era candidato, o que justificou a torcida ao Obama.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deu de “cabo eleitoral”, torcendo a vitória de Obama, com a possibilidade de derrotar o candidato “do império americano” desde que não intrometesse “os assuntos internos da Venezuela”. Como o Obama criticava as atitudes do venezuelano em outros países, passou a atacar e dizer que ele é “igual ao Bush”.

Alguns chefes de estados e governos da América Latina e no resto do mundo, chegaram declarar elogios ao Barack Obama durante a campanha presidencial de 2008.

Uma semana antes das eleições dos Estados Unidos, os grupos terroristas Taliban e Al-Caeda fizeram declarações para que o Partido Republicano (McCain) seja derrotado e que o Partido Democrata (Obama) vença na eleição, como a possibilidade que as tropas americanas sejam retiradas no Afeganistão e Iraque. No entanto, após ser eleito, Obama diz que vai retirar as tropas americanas no Iraque em 18 meses e manter as tropas no Afeganistão para capturar integrantes do Taliban e Al-Caeda, incluindo Osama Bin Laden, gerando a reação dos grupos atacando o novo presidente.

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Fontes