Discussão:Câmara dos deputados brasileira aprova novo acordo tarifário para Itaipu

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Fonte: Wikinotícias

"O que a história ensina é que os governos e as pessoas nunca aprendem com a história" Friederich Hegel[editar código-fonte]

"O Paraguai rompe violentamente toda uma estrutura de dominação econômica, quando Carlos Antonio López, um “obscuro advogado”, enfrenta os métodos britânicos e promove o progresso de seu país, sem precisar de um tostão dos financiamentos ingleses. O seu método simples: ele traz do exterior todos os técnicos que o país precisa para implantar a base de seu desenvolvimento industrial. É preciso não esquecer que os processos industriais dessa época, métade do séc. XIX, são simples, época em que é fácil transferir e copiar tecnologia. A única barreira era justamente a dominação econômica – por meio da infiltração das potências ricas nas CLASSES DOMINANTES DOS PAÍSES POBRES, para impedir a emancipação econômica nacional. Como no Paraguai o capital inglês nunca conseguiu predominar e não existia uma CLASSE DOMINANTE a serviço do imperialismo estrangeiro, não houve problemas para o presidente Carlos Antonio López criar uma infra- estrutura básica de desenvolvimento industrial e cultural. Dessa forma o país constrói a primeira ferrovia da América do Sul, que apesar de ser projetada por um engenheiro inglês, visa especialmente, e tão-só, a atender interesses paraguaios.

Com a chegada da mão de obra especializada, constrói-se fábricas, hospitais … fundam-se diversas empresas. Todos esses técnicos são pagos com moeda ouro. Em seguida Lopes envia à Europa jovens promissores, recrutados entre os alunos que mais se destacam nas escolas paraguaias, para se especializarem em diversas áreas. Na sua volta, serão eles próprios pela revolução tecnológica do país, criando mais industrias – fontes de emprego, abrindo estradas, aperfeiçoando os estabelecimentos existentes, além de lançarem as bases do ensino superior. O Paraguai está numa ebulição de progresso. A produção aumenta: fumo, erva-mate, algodão, arroz, cana-de-açúcar são abundantemente colhidos. Vinte anos depois da posse de Lopes chega-se a colher a surpreendente soma de sete mil toneladas de fumo; duas mil toneladas de erva mate, e um rebanho de sete milhões de cabeça de gado bovino. Toda essa riqueza é exportada, apesar das espoliações impostas por Buenos Aires e seu porto controlado por uma alfândega a serviço do mercantilismo inglês. Já em 1845, funcionava a fundição de Ibycuí produzindo uma tonelada de ferro por dia, enquanto Brasil e Argentina importavam “ bebidas espirituosas”, alfinete, botão, talheres e utensílios domésticos. Em Assunción fabricava-se armas para o exército em formação com o metal fundido em seu próprio país. Nesta mesma época os produtos paraguaios singravam os mares em navios fabricados no Paraguai, excluindo-se os seus motores a vapor, comprados e pagos a maioria com a troca de mercadorias. Esses navios compunham uma frota de onze barcos a vapor e cerca de cinqüenta veleiros, acrescidos gradativamente com novas unidades nacionais, partiam de Assunción para a Europa carregados de erva mate, fumo e alguns outros produtos, para voltarem com aparelhos científicos, armas mais sofisticadas, máquinas de imprensa e produtos químicos que na sua maioria passavam a ser fabricados no próprio Paraguai. Comparando-se esta imensa explosão de progresso com a dependência total da quase inexistente indústria brasileira e argentina, é evidente que o Paraguai, para a “CIVILIZAÇÃO INGLESA”, era um perigo. A euforia do governo paraguaio ante às realizações em tão curto tempo, e as perspectivas que se abriram ao país, evidencia-se no entusiasmo após o lançamento do vapor nacional “Rio Branco” às águas em 1856, uma verdade que provocará, pela sua importância econômica, um ressentimento surdo contra essa magnífica emancipação nacional, verificado sempre onde as CLASSES DOMINANTES foram costumeiramente meros sabujos do imperialismo: português, espanhol ou inglês, dependendo das circunstâncias. Assim, o progresso paraguaio exporta madeira, produz louça fina, constrói ferrovias, exporta salitre, ergue fábricas de pólvora, papel e enxofre. Instala-se o telégrafo, reformula-se o uso da terra com o emprego de mais implementos agrícolas, todos fabricados na fundição de Ibycuí, dando melhores condições de trabalho ao camponês que aumenta sua produtividade. O povo paraguaio está incluído no processo de desenvolvimento do país e sabe, por experiência prática, que participa dos seus frutos. Um período em que não se conheciam os ladrões nas cidades ou em regiões despovoadas; qualquer viajante podia caminhar só à noite pelo campo, com grandes quantidades de dinheiro para compra de fumo aos fazendeiros e camponeses, seguro que não havia de ter mais de uma respeitosa saudação dos caminhantes que encontrasse.

“O RESPEITO À COISA PÚBLICA EXISTE ATÉ NA CLASSE MAIS ÍNFIMA DA POPULAÇÃO. NÃO SABERIA CITAR UM EXEMPLO DE FALTA DE PROBIDADE DESDE O ESTADO OU ATÉ MESMO DA PARTE DA GENTE MAIS NECESSITADA” Essa coesão moral entre governo e o povo, sedimentada por uma estrutura econômica que emancipou o país, levava o Paraguai a ser, em poucos anos, a mais progressista república americana – o que já era potencialmente. Isso representava um insulto aos padrões que o imperialismo inglês impôs à América do Sul, onde predominava a hipocrisia cevada na corte imperial brasileira e nos salões da burguesia portenha, para criar uma cortina de fumaça encobrindo o assalto econômico praticado pela Grã-Bretanha no hemisfério sul. O Paraguai, um país mediterrâneo esquecido do mundo que fizera sua independência já em 1811, começa a ser notado além dos salões diplomáticos de Buenos Aires e Rio.

As origens da Guerra do Paraguai que germinavam desde o início do século, começavam a tomar contornos nítidos, na medida em que o POVO GUARANI consolida o seu progresso. Estes brilhantes resultados, finalmente serão anulados com quaisquer pretextos disponíveis, justamente para que um país emancipado economicamente não ponha em risco o “equilíbrio do Plata”; um “equilíbrio” que como se verá, significa manter o domínio do capital inglês sobre os dois mais importantes países da América do Sul: Brasil e Argentina.

O FIM

A DESTRUIÇÃO FINAL DE UM PAÍS LIVRE.

Enfim, a guerra está terminada. O Paraguai está destruído. O Paraguai perdeu cento e quarenta mil quilômetros quadrados do seu território. O Império do Brasil, finalmente, tem os pedaços de terra que sempre cobiçou. A Argentina ficou com o Chaco Austral e quase empolga todo o Chaco Boreal. As terras perdidas pelo Paraguai somam em quilômetros quadrados mais que os estados brasileiros de Pernambuco e Alagoas juntos; mais que Alagoas, Espírito Santo e Paraíba juntos; mais que Santa Catarina e o Rio de Janeiro juntos. Enfim, é roubado do Paraguai um território maior que Portugal e a Dinamarca juntos; maior que a Bélgica e Cuba juntos; maior que a Alemanha Oriental e a Albânia juntos; maior que a Áustria e Costa Rica juntos.

Mas isso não é ainda o mais importante. O importante é que o imperialismo inglês, destruindo o Paraguai, mantém o status quo na América meridional, impedindo a ascensão do seu único Estado economicamente livre, com uma estrutura industrial desenvolvendo-se rapidamente. E, ao fazer isso, agrega ao seu poder, como credor implacável, o Império do Brasil – que vai cair por causa dessa guerra – a República Argentina e o Uruguai. Estes três aliados da Tríplice Aliança, ganhando os territórios e dividindo o butim de guerra, na verdade perdem. O Brasil fica com uma dívida externa espantosa e só consegue saldar seus compromissos mais urgentes aumentando os empréstimos com os bancos ingleses, o que vale dizer, atrelando-se cada vez mais aos juros de Rotschild. De 1871 a 1889, o Império do Brasil – até cair de podre – é obrigado a fazer a seguinte evolução da sua dívida junto ao Banco Rotschild: a. 1871…………………………………. 3.000.000 de libras b. 1.875 ………………………………. 5.301.200 libras c. 1.883 …………………………….. 4.599.600 libras d. 1.886 ……………………………. 6.431.000 libras e. 1.888 ……………………………. 6.297.300 libras f. 1.889 ……………………………. 19.875.000 libras Total…………………………………. 45.504.100 libras A Argentina enveredada por não melhor caminho. De 1865 até 1876, sua dívida oriunda de empréstimos no exterior soma a apreciável cifra de 18.747.884 libras. O Império do Brasil e a República da Argentina – sempre com o Uruguai de contrapeso – destruíram o Paraguai para o imperialismo inglês e pagaram por isso em vidas humanas e num endividamento crescente, que determinou inclusive a impossibilidade de um desenvolvimento autônomo de suas economias, sempre ligadas, até hoje, ao capital estrangeiro.

O Paraguai, que tinha uma estrutura social baseada no acesso de todos à terra, com as “estâncias da pátria” criadas por Francia, estimuladas por Carlos Antonio e em pleno desenvolvimento no período de Francisco Solano Lopes, terá toda essa organização destruída criminosamente nos cinco anos de ocupação dos aliados. Suas terras, após a derrota, são vendidas para estrangeiros – passam a ser seus proprietários, capitalistas de Amsterdan, Londres ou Nova York, que jamais visitaram o país, mas que cobraram enormes taxas para que os camponeses paraguaio sutilizassem os campos que lhes foram roubados. O governo de ocupação ainda entrega tudo de valor, de propriedade do Estado que restou de pé no Paraguai. Uma dessas propriedades, orgulho do Paraguai livre, foi a sua estrada de ferro, “vendida” aos ingleses.

Resta um país mutilado, castrado, que nunca mais pode reerguer-se; mataram o Paraguai literalmente – exterminaram 96,50% da sua população masculina! Na destruição do Paraguai, matou-se no nascedouro a grande esperança de liberdade econômica da América do Sul. Consolidou-se o domínio estrangeiro do capital espoliador – jogou-se por terra a audácia e a vontade indomável de resistir e perpetuarem-se até apodrecerem no poder político, homens como Mitre, Sarmiento, os gabinetes fantoches de Pedro II e os herdeiros do caudilhismo de Venâncio Flores.

O desastre econômico que se abate sobre os ex-aliados da Tríplice Aliança, o agravamento da dívida destes países e a impossibilidade de libertarem-se do capital estrangeiro até hoje, evidenciam a presença brutal do imperialismo inglês puxando os cordéis da dominação. Enfim, o modelo de libertação que nos propunha com grande eficiência o Paraguai da metade do século XIX, os sabujos do imperialismo inglês destruíram – acabando também com a possibilidade de rompimento das relações abjetas entre o oprimido e o opressor na América do Sul eliminando este último, representado naquele período histórico pelo capital inglês.

Destruiu-se o Paraguai assassinando um povo. Exterminando brutalmente uma nação. Não fosse a verdade escondida por gerações e gerações de historiadores oficiais, restaria hoje às massas americanas, pelo menos o exemplo de um povo livre, condenado ao extermínio pelo crime de sua liberdade.

Uma lição que seria tão mais útil – se fosse ensinada ao povo – porque hoje nenhuma potência mais pode ter o desprezo da Inglaterra ao saber do extermínio da nação paraguaia expressado nas cretinas palavras de Lord Palmerston:"

“ A Inglaterra tem tanta força, que pode cagar em todas as conseqüências”

Chiavenato, Julio José: “Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai”, editora Brasiliense

Leituras complementares:

“Eu o Supremo”, de Augusto Roa Bastos

“As veias abertas da América Latina” de Eduardo Galeano

“A FOME NO MUNDO EXPLICADA A MEU FILHO” de, Jean Ziegler

“América Latina, Males de Origem”, de Manoel Bomfim

“Los nuevos amos del mundo y aquellos que se les resisten”, de Jean Ziegler http://www.luisemiliorecabarren.cl/files/los_nuevos_amos.pdf