Covid-19: Doria e Anvisa têm embate devido a vacina CoronaVac

Fonte: Wikinotícias

27 de novembro de 2020

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O governador de São Paulo, João Dória, envolveu-se numa polêmica ontem com a Anvisa ao dizer que se agências internacionais validarem a CoronaVac, ela também estará validada no Brasil, independente da liberação da própria Anvisa.

Numa entrevista ao portal Metrópoles, Doria disse: "não há outro caminho que não liberar [a CoronaVac] dentro dos critérios que a Anvisa tem, que são os mesmos critérios de protocolos internacionais de outras agências de vigilância sanitária que também estão avaliando a vacina CoronaVac, nos Estados Unidos, na Europa, sobretudo na Ásia. Essas agências, se validarem a vacina, ela estará validada independentemente da própria Anvisa".

A Anvisa rebateu, com uma nota de esclarecimento em seu website, enfatizando que:

  • informa que eventual aprovação de uma vacina pela autoridade regulatória da China NÃO implica aprovação automática para o Brasil;
  • a vacina CoronaVac NÃO está sendo testada nos EUA e na Europa;
  • a vacina está sendo testada na China, na Turquia, na Indonésia e no Brasil.

A nota também reportou que o Instituto Butantan, responsável pelos testes da CoronaVac no Brasil, ainda "não entregou o resultado de nenhuma fase de pesquisa clínica com seres humanos" e "afirmou que o pacote de informações necessárias para a avaliação da vacina ainda não foi concluído pelo Instituto".

A previsão é que os dados sejam enviados pelo Butantan à Anvisa na primeira semana de dezembro, que a Agência avalie e dê se aval positivo até o final do mesmo mês e que a vacina possa começar a ser aplicada em janeiro.

Horas depois da nota divulgada pela Anvisa, Dória escreveu em seu Twitter que tudo foi fruto de má intepretação. "Há confusão em relação à minha declaração sobre a validação da Coronavac junto à Anvisa. Existe diferença entre validar uma vacina fora do país e autorizar sua aplicação em território nacional", postou na rede social.

A CoronaVac

A vacina está sendo desenvolvida por uma empresa chinesa, mas num acordo assinado com o Instituto Butantan e o Governo de São Paulo, o Brasil passou a fazer parte do estudo, com a aplicação de doses experimentais para obtenção de dados sobre sua segurança e eficácia.

Dados iniciais demonstraram, no Brasil, que mais de 94% dos voluntários não desenvolveram reações adversas à vacina, mas um relatório divulgado pela The Lancet na semana passada, feito pelos cientistas chineses, enfatiza, no entanto, que faltavam dados conclusivos.

"Nosso estudo teve várias limitações. Primeiro, não avaliamos as respostas das células T (...); em segundo lugar, relatamos apenas dados de resposta imunológica para adultos saudáveis e não incluímos indivíduos de grupos mais suscetíveis (indivíduos com mais de 60 anos ou com comorbidades); e dados sobre persistência imunológica ainda não estão disponíveis, os quais precisam ser melhor estudados".

No Brasil, a vacinação experimental chegou a ser suspensa há cerca de um mês devido a "um evento adverso grave", o que fez a Câmara exigir explicações da Anvisa, já que o Butantan relatou que o evento não tinha nada a ver com algum efeito contra o imunizante. Na época também, o Butantan reportou que enviaria os relatórios com os dados finais para a Anvisa nas próximas semanas, o que segundo a Agência ontem, ainda não aconteceu.

Disputa política entre Dória e Bolsonaro

Apesar dos estudos não ser conclusivos na China e no Brasil, há semanas Dória disse que toda população de São Paulos seria vacinada a partir de janeiro, tendo o governo do estado comprado 46 milhões de doses do imunizante, parte entregue na semana passada e cujo uso será gerenciado pelo Butantan. Algumas pessoas, principalmente nas redes sociais, consideram que disponibilizar o imunizante em SP seja uma "jogada política" de Dória, visando as eleições presidenciais de 2022.

Por outro lado, Bolsonaro reagiu dizendo que o Brasil não compraria a "vacina chinesa de Dória".

Sobre a negativa de Bolsonaro, em sua coluna no UOL o jornalista Ricardo Kotscho escreveu em 20 de outubro passado: "em seu esforço para fazer o relógio da história girar ao contrário e levar o Brasil de volta ao início do século passado, o capitão Jair Bolsonaro encontrou um novo inimigo: a vacina obrigatória contra a Covid-19, defendida por mais de 70% da população, segundo o Datafolha. Com isso, ele resolveu matar dois coelhos com uma cajadada só: o governador paulista João Doria, possível concorrente em 2022, e a "vacina comunista" desenvolvida pela China, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo".

Na época do embate entre os dois, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, havia avalizado a compra por Dória, mas foi obrigado a, praticamente, se retratar no dia seguinte, após a fala de Bolsonaro.

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Fontes