Contato com áreas verdes tem efeitos da saúde cardiovascular à mental

11 de março de 2025
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Parece intuitivo que estar em contato com a natureza traz bem-estar e uma melhor qualidade de vida, principalmente no contexto dos centros urbanos. Mas será que a ciência corrobora com dados essa nossa sensação? Em artigo publicado na Revista Brasileira de Ecoturismo, pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP mostram que sim. Eles buscaram diversos estudos para responder à pergunta: “Observar a natureza pode aumentar o bem-estar das pessoas?”, reunindo artigos científicos de várias partes do mundo. A pesquisa verificou os benefícios da observação da natureza para a saúde mental e física, resultado que também pode auxiliar na criação de novas oportunidades e políticas no setor do ecoturismo. “Já há um tempo, estamos olhando bastante para como as áreas verdes podem ter cada vez mais um valor explícito para a sociedade. Querendo ou não, isso impacta muito na forma que direcionamos recursos para essas áreas’’, diz Gabrielle Nunes, doutoranda em Ecologia Aplicada no Departamento de Ciências Florestais da Esalq. Apesar da grande biodiversidade de fauna e flora, ela ressalta o pouco número de estudos relacionados ao tema no Brasil como uma das motivações da investigação.
A pesquisa também se associa aos aumentos significativos de problemas de saúde mental e física,“especialmente entre pessoas que vivem em grandes centros urbanos”, afirma Teresa Magro, professora do curso de Engenharia Florestal da Esalq.
Atuante com manejo de áreas protegidas e benefícios da natureza para as pessoas, Teresa afirma que outras pesquisas já indicam que a falta de contato com a natureza é um dos fatores que contribui para esse cenário de deterioração da saúde pública.
A seleção dos artigos foi feita utilizando um banco de dados com 211 estudos sobre áreas verdes e bem-estar humano. Porém, segundo Gabrielle, foram separados apenas aqueles que envolviam interações entre pessoas e meio-ambiente por meio da observação ou de atividades relacionadas, como caminhadas. A restrição também se aplicou a artigos que necessariamente abordam ambientes de parques, florestas, espaços verdes urbanos e de grande biodiversidade. “Isso é muito feito na pesquisa científica, para não tentar inventar a roda. Já temos um banco robusto de dados, não precisamos buscar refazê-lo do zero”.
A análise revelou que 94% dos estudos reportaram efeitos positivos do contato com a natureza, abrangendo 12 efeitos psicológicos positivos e 5 efeitos fisiológicos. Apenas 8,95% dos estudos relataram efeitos neutros, e nenhum efeito negativo foi observado. As evidências sugerem que o desenvolvimento de experiências turísticas baseadas nesses benefícios poderia aumentar a atratividade dos destinos.
Para entender os reais benefícios para a saúde das interações com a natureza, a principal classificação utilizada foi a divisão das atividades entre observações passivas e ativas. Gabrielle explica que a observação passiva consiste na noção de presença de uma área verde, mas ela não ser o foco de atenção. “Se estou caminhando em uma área verde, ouvindo música, obviamente que o ambiente externo tem um efeito sobre mim. Porém, mesmo eu visualizando isso, não estou prestando atenção em características ou aspectos específicos daquele ambiente”.
Pela análise dos artigos, foi verificado que a grande maioria deles (94,03%) relata resultados positivos do contato com a natureza. Dentre os efeitos psicológicos encontrados estão a redução de ansiedade, do estresse e da irritação, enquanto melhorias na saúde cardiovascular foram destaque nos efeitos fisiológicos. Outro aspecto mencionado com frequência nos estudos foram os efeitos restauradores que as áreas verdes podem proporcionar, como a influência na recuperação do estado de fadiga mental e a melhora no estado de humor.
Para além dessas conclusões, alguns poucos estudos sugerem que a conexão com o meio ambiente pode afetar outras condições ainda não tão investigadas. Entre elas está o aumento da empatia e da espiritualidade por meio de interações sociais dentro desses ambientes, assim como as melhorias na cognição e na concentração após o encontro com a natureza.
Fontes
[editar | editar código-fonte]- ((pt)) Fernanda Zibordi. Contato com áreas verdes tem efeitos da saúde cardiovascular à mental — Jornal da USP, 10 de março de 2025
![]() | Esta notícia é uma transcrição parcial ou total do Jornal da Universidade de São Paulo. Este texto pode ser utilizado desde que seja atribuído corretamente aos autores e ao sítio oficial. Veja os termos de uso (copyright) na página do Jornal da USP |