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Brasileiros debatem redução da jornada de trabalho por meio do ‘movimento do VAT’

Fonte: Wikinotícias

21 de outubro de 2024

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Rick Azevedo ligou a câmera do celular e, durante um minuto e sete segundos, falou sobre como se sentia indignado com sua exaustiva agenda de trabalho que coloca os trabalhadores em ação oito horas por dia, seis dias por semana, com apenas um dia de folga.

“Fico pensando, sou uma pessoa que mora sozinha, que não tem filhos e não posso fazer nada; você consegue imaginar alguém que tem filhos, um marido, uma casa para cuidar? Quero saber quando nós, a classe trabalhadora, nos revoltaremos contra essa escravidão ultrapassada chamada semana de trabalho 01/06?”, disse ele na transmissão ao vivo de 12 de setembro.

Seu vídeo foi interpretado como um apelo às armas por algumas pessoas online. O clipe, postado no TikTok no dia seguinte, teve mais de 1 milhão de visualizações um ano depois e desencadeou um movimento no Brasil chamado VAT – sigla em português que significa Vida Além do Trabalho ou “Vida Além do Trabalho”.

O movimento está a tentar desafiar as leis laborais do país, que determinam dias de trabalho de oito horas, mais quatro horas aos sábados, totalizando 44 horas de trabalho por semana. Isso geralmente equivale a um salário mínimo de R$ 1.412 no Brasil.

Trabalhadores de indústrias como comércio, restaurantes, supermercados e call centers, entre outros serviços, provavelmente estarão sujeitos a esse tipo de horário. Algumas categorias têm exceções e possuem regimes de trabalho próprios.

Na seção de comentários do vídeo de Azevedo, um seguidor disse: “Normalmente você tem folga no domingo e não consegue marcar consulta médica, dentista nem resolver nada”, enquanto outros reclamaram: “Odeio isso; parece que minha vida está sendo sugada.” Outro usuário destacou que as pessoas vão te chamar de preguiçoso se você não gostar desse horário porque “acham que é normal perder a vida por uma empresa”.

O próprio Azevedo, de 30 anos, trabalhou durante 12 anos no regime de 01/06 como atendente de farmácia, conforme compartilhou no podcast Lado B do Rio. Ele afirma que a rotina o deixou doente, causando ansiedade e depressão, e o impediu de estudar ou de tentar qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a desenvolver sua carreira.

Ele diz que deixou esse tipo de trabalho por um tempo, mas em julho de 2023 teve que voltar sem outra alternativa. Desesperado com a situação, ele ligou a câmera para gravar o vídeo que lhe rendeu elogios e ajudou a inspirar um movimento.

No Brasil, como em outros países, muitas pessoas enfrentam situações de trabalho precárias devido à flexibilidade das leis trabalhistas e à ascensão da “gig economy”. Isso levou a um aumento significativo no número de pessoas que deixaram de procurar empregos tradicionais —de 1,46 milhão para 4,98 milhões entre 2014 e 2019, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A agência de notícias do Senado observa que o congresso nacional tem discutido propostas para reduzir a jornada de trabalho desde 1995, mas a mudança só parecia provável no último ano. Em dezembro de 2023, foi aprovado em uma das comissões projeto para incluir na CLT a possibilidade de redução de jornada de trabalho sem corte de pagamento, caso determinado em acordo prévio.