Amazonas deve ter cheias severas em 2021

Fonte: Wikinotícias

10 de abril de 2021

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Os sinais de alerta são claros: o Amazonas enfrentará cheias históricas em 2021. Eles já são visíveis na bacia amazônica. Com as chuvas acima da média desde o início do ano, provocadas sobretudo pelo fenômeno La Niña (esfriamento do Oceano Pacífico), 12 dos 13 municípios das calhas dos rios Juruá e Purus, no sul do Estado, decretaram situação de emergência. Mais de 100 mil pessoas – entre comunidades ribeirinhas e urbanas – foram afetadas pelas enchentes. O Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) emitiu boletim para que Manaus e os municípios de Manacapuru e Itacoatiara se prepararem para as cheias entre junho e julho. Na capital amazonense, onde a medição no rio Negro é feita no porto desde 1902, a CPRM projeta que será ultrapassada a marca de 29 metros. Seis das dez grandes enchentes do Negro ocorreram nos últimos dez anos.

Na sexta-feira (9), o nível do rio Negro, em Manaus, chegou a 27,75 metros, ultrapassando a cota de inundação, que é uma das cotas de referência utilizadas pelo Sistema de Alerta Hidrológico da CPRM; o Serviço Geológico do Brasil mantém a sigla antiga do órgão, que significa Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Na capital amazonense, a cota de inundação é de 27,05. Outro município que também já alcançou a cota de inundação é Manacapuru (a 98 Km de Manaus), no Médio Solimões. Itacoatiara (a 270 Km de Manaus) está em cota de alerta.

Visão área da Amazônia

Para a cheia deste ano, a projeção da CPRM é a de que o rio Negro na capital amazonense fique entre 28,5m e 30,35m, com maior probabilidade de atingir a média desse intervalo, que é de 29,45. Ou seja, apenas 52 centímetros abaixo dos 29,97 metros, marca máxima registrada em 2012. O rio Negro é um dos principais afluentes do rio Solimões. Ele nasce na Colômbia e entra no Brasil na região do município de São Gabriel da Cachoeira. Sua foz é em Manaus. A partir daí, o Solimões passa a se chamar rio Amazonas.

O primeiro boletim Alerta de Cheia da CPRM, apresentado em 31 de março, relata cheias nas microbacias da bacia amazônica, atingindo, no Amazonas, o rio Negro e, em Roraima, o rio Branco, ambos afluentes do rio Solimões. Outros rios da bacia também estão em situação de alerta de cheia, como o Juruá, afetando cidades do Acre e do Amazonas, como Eirunepé e Ipixuna. Em fevereiro, vários municípios acreanos foram inundados pela subida dos rios Juruá, Purus, Tarauacá, Envira, Yaco e Acre.

Cientistas e pesquisadores afirmam que o fenômeno La Niña é o principal responsável pelas chuvas acima da média observadas desde o fim do ano passado. O primeiro trimestre de 2021 foi marcado por volumosas precipitações em áreas que, nessa época, não costumam se caracterizar por intensos temporais, como o norte do Amazonas e Roraima. Em Manaus, o acumulado de chuva registrado em março de 2021 superou a marca histórica registrada em 1963.

“O que vai definir se os rios ficarão acima ou abaixo destas previsões médias será o volume de chuva que cairá ao longo das bacias”, explicou Luna Gripp Simões Alves, pesquisadora em Geociências da CPRM. Responsável pelo Sistema de Alerta Hidrológico do Amazonas (Sipam), Luna explicou que o olhar se volta para as chuvas ocorridas em suas cabeceiras – na fronteira do Brasil com a Colômbia – na região do Alto Rio Negro e também para o volume do rio Solimões. Quando o Solimões está com um volume muito elevado, explicou a pesquisadora, o Negro acaba sendo represado, inundando o perímetro urbano de Manaus.

“Em Manaus, a primeira região a alagar é o bairro São Jorge. Lá, o Negro já ultrapassou a cota de inundação. Temos a cota de inundação severa, que é quando chega a 29 metros e começa a inundar a rua dos Barés, no centro da cidade”, disse Luna Gripp.

O que mais tem chamado a atenção dos cientistas, destaca Luna Gripp, é que as grandes cheias do rio Negro ocorrem com maiores frequência e intensidade. “É normal e é esperado que os rios tenham esse processo de enchente e de vazante ao longo dos anos. Mas há um detalhe importante: os eventos estão cada vez mais extremos não só em magnitude, mas também em frequência”, afirma ela. “Às vezes, nem dá tempo de a população se preparar para a próxima por acabar de ter saído de uma [cheia].”

Por enquanto, a CPRM estima que a chance de o rio Negro superar o nível máximo histórico registrado em 2012 – 29,97 metros – é de 17%. Outros dois boletins serão apresentados nos dias 30 de abril e 31 de maio, datas mais próximas do pico da cheia. Desde 1989, o Serviço Geológico do Brasil realiza o monitoramento hidrológico da região amazônica em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA).

Fontes