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“Comprem painéis solares”, dizem autoridades cubanas diante de novo apagão crítico no país

Fonte: Wikinotícias

9 de novembro de 2024

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Em Cuba, não são os cortes de energia que surpreendem, mas os raros momentos em que há eletricidade. Isso se reflete na expressão “La electricidad no se va, la ponen” (“A luz não acaba, eles que ligam”). Essa piada popular ressalta como é raro passar um dia inteiro sem longos apagões. A situação piorou na segunda quinzena de outubro, quando 84% dos lares cubanos sofreram um apagão total que durou mais de 70 horas. Foi o mais longo não relacionado a um desastre natural.

De acordo com relatórios oficiais, o apagão foi causado por uma falha técnica em uma usina termelétrica localizada a 104 quilômetro a leste de Havana. Essa “nova realidade” intensifica o que já é a mais grave crise socioeconômica da história do país. Com a inflação acima de 200% e o salário médio mensal de US$ 7, os cidadãos não conseguem pagar por necessidades básicas, e suas reservas limitadas de alimentos acabam estragando, devido aos prolongados cortes de energia.

Apenas centros turísticos são poupados, graças às suas usinas de energia independentes. No dia 20 de outubro, geradores hospitalares começaram a ficar sem combustível, colocando pacientes graves em risco. O governo fechou todas as escolas por tempo indeterminado, sem previsão de reabertura. Os serviços de água e gás, que já eram precários, foram completamente interrompidos nas áreas residenciais. A energia foi parcialmente restabelecida somente após quatro tentativas de reativação.

O regime perdeu o controle da situação, tendo anteriormente limitado os cortes de energia às áreas rurais para evitar descontentamento e protestos na capital. Enquanto em Havana os apagões eram pouco frequentes ou muito curtos, nas províncias duravam até 10 horas por dia. Em um recente discurso na televisão, Alfredo López, diretor geral da estatal Unión Eléctrica de Cuba (UNE), pediu aos cidadãos que investissem em painéis solares e admitiu que, embora melhorias sejam possíveis, o governo não pode prometer uma solução energética estável a curto ou médio prazo. A declaração gerou críticas generalizadas da diáspora, que acredita que o ônus financeiro está mais uma vez sendo injustamente colocado sobre seus ombros.

As autoridades de Cuba continuam responsabilizando os Estados Unidos pela crise energética, mas as causas raízes são mais complexas. Com uma média de 40 anos de operação, as usinas termelétricas cubanas já ultrapassaram, há muito, o tempo de vida útil de 25 anos para o qual foram projetadas. Restrições financeiras têm dificultado ainda mais a capacidade do governo de garantir importações de combustível de países como Argélia e México, enquanto a crise na Venezuela levou a uma diminuição expressiva das exportações subsidiadas de petróleo para Cuba.

A questão fundamental permanece: o regime não tem um plano estratégico de longo prazo. Apesar do apoio financeiro substancial de Hugo Chávez (2000-2013), o governo não investiu na modernização da infraestrutura de energia. Em 2016, a Rússia ofereceu um crédito de US$ 1,2 bilhão para renovar a rede elétrica de Cuba, mas a ineficiência burocrática fez com que a oportunidade fosse perdida. Além disso, nas últimas décadas, o governo investiu pesadamente na expansão da infraestrutura do turismo de luxo, negligenciando outros setores essenciais da economia.

Com a deterioração das condições de vida, as tensões continuam aumentando. Em várias partes da ilha, a população organizou protestos noturnos contra o regime, usando a escuridão como proteção. Para conter a disseminação das manifestações, o governo restringiu drasticamente a conectividade com a internet. Na noite de domingo, 20 de outubro, o presidente Miguel Díaz-Canel apareceu na televisão nacional em uniforme militar, para anunciar que qualquer perturbação à ordem pública seria punida. Em muitas cidades, longas filas de carros de polícia patrulharam as ruas para deter os manifestantes. Para aumentar a complexidade da situação, um furacão atingiu a parte leste da ilha, matando pelo menos seis pessoas até o momento da redação deste artigo. O que virá a seguir permanece uma incógnita.