Parlamentares brasileiros comentam denúncias contra Ministro da Fazenda

Fonte: Wikinotícias

Brasil • 20 de agosto de 2005

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Alguns dos principais parlamentares brasileiros fizeram comentários na sexta-feira (19) acerca das denúncias do advogado Rogério Tadeu Buratti, ex-assessor municipal do atual Ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Buratti, que foi preso terça-feira (16) e é acusado de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e destruição de provas, está também a ser investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos. Em depoimento à polícia, Buratti afirmou sexta-feira (19) que o Ministro da Fazenda Antonio Palocci recebia de forma ilegal R$ 50 mil de empresas de coleta de lixo quando era prefeito de Ribeirão Preto, cidade do interior do estado de São Paulo.

Durante a entrevista coletiva da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios realizada na sexta-feira (19), o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS) evitou tomar posição sobre as novas denúncias de corrupção que envolvem o Ministro da Fazenda. Delcídio disse que gostaria primeiro de informar-se a respeito dos fatos, antes de emitir algum comentário mais detalhado. "Não podemos, de chofre, em função de mais uma denúncia, fazer qualquer tipo de juízo de valor", disse ele.

O presidente da CPI dos Correios, semador Delcídio Amaral, advertiu que é preciso tomar cuidado com a "onda de denuncismo" que segundo ele ocorre no país. Ele observou que todas as pessoas acusadas por algum crime querem agora "negociar delação premiada" para não divulgar "listas". Segundo o senador, é necessário ter cautela e observou que uma denúncia como aquela que foi feita pelo advogado Buratti contra o Ministro da Fazenda Antonio Palocci é capaz de prejudicar as boas condições da economia brasileira.

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que as denúncias "fortes e graves" precisam ser investigadas, porém com calma. Ele lembrou as recentes declarações do doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o "Toninho da Barcelona". Ele disse que houve um "atropelamento" em relação ao testemunho do doleiro, e afirmou que seu depoimento não acrescentou muito às investigações, segundo alguns integrantes da CPI.

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) disse que o Ministro da Fazenda Antonio Palocci exerce de forma competente suas funções, contudo, o envolvimento de seu nome nas denúncias feitas por Buratti agrava a situação da crise política brasileira.

"Nós podemos dizer que o país estaria entrando na fase mais aguda dessa crise sem precedentes na história republicana, aquela que começou com os três mil reais do senhor Marinho nos Correios e agora já ameaça a própria estabilidade da equipe econômica do governo do presidente Lula", observou Virgílio.

O senador Arthur Virgílio citou manchetes dos jornais do dia para lembrar a situação política precária do governo e do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Virgílio disse que Lula depende do "silêncio" dos personagens investigados nos escândalos do mensalão e dos bingos: "Triste do país quando o equilíbrio político depende de o senhor Delúbio não falar, de o senhor Silvio Pereira silenciar, de o Toninho da Barcelona ficar quieto".

Na opinião de Arthur Virgílio, os investigados são tratados a "pão-de-ló", para não falarem. Como exemplo citou o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, que teria garantido que não vai delatar ninguém. De qualquer forma, o senador considerou frágeis aquilo que chamou de "acordos de silêncio", e comparou-os aos pactos de ormeta, espécie de acordo existente entre os membros das famílias da máfia italiana: "É um pacto de ormeta demasiadamente difícil de se sustentar".

O senador José Jorge (PFL-PE) disse que, a não ser que o ministro Antonio Palocci apresente explicações convincentes para as denúncias, ele irá convocá-lo para depor perante a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos: "Vou aguardar que o ministro, nas próximas horas, dê explicações cabais sobre as graves denúncias feitas pelo seu ex-assessor na prefeitura de Ribeirão Preto, Rogério Tadeu Buratti. Se a defesa de Palocci não for convincente, apresentarei, já na próxima semana, requerimento convocando o ministro para depor na CPI dos Bingos".

O relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) anunciou que apresentará um requerimento que pede a convocação de Rogério Buratti para depor novamente na CPI. Cauteloso, ele lembrou que Buratti fez suas declarações em troca do benefício da delação premiada, o que em sua opinião é "um verdadeiro salve-se quem puder". Mesmo assim, Garibaldi disse que o ministro Palocci deve apresentar logo algum comentário sobre as denúncias. Ele observou que se a crise política se espalhar para a área econômica, "o país não poderá ter mais nenhuma pilastra para se sustentar".

Senador Álvaro Dias (PSDB-PR): "O que contamina a economia é a corrupção e não o seu combate e sua investigação".

Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR): "O ministro tem que ser chamado à responsabilidade para esclarecer à sociedade esses fatos, que são da maior gravidade. Não podemos blindar a economia e poupar quem quer que seja, em nome do futuro deste país. O que contamina a economia é a corrupção e não o seu combate e sua investigação".

Álvaro Dias criticou o Presidente da República, porém disse que ainda não é caso de os parlamentares proporem o impeachment: "O presidente da República não tem autoridade moral para conduzir os destinos do país. Ele está contaminado, de forma definitiva, pelo escândalo de corrupção. Mas isso não nos leva a propor irresponsavelmente o impeachment. Isso não nos cabe. O que nos cabe é julgar a conveniência dele se a sociedade o exigir".

Álvaro Dias também disse: "Ele [o Presidente da República] não foi eleito para ignorar e sim para saber. Ele foi eleito para organizar, comandar, decidir e tomar providências. Mas não impôs autoridade. Foi conivente, omisso, relapso, demonstrou despreparo e não pode, agora, ser isentado de responsabilidade quando estamos procurando justamente os principais responsáveis por tudo o que ocorreu neste país nos últimos dois anos e meio".

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