Público não é mais apenas espectador na Bienal do Mercosul
Porto Alegre, Brasil • 20 de outubro de 2005
Na 5ª Bienal do Mercosul os espectadores também criam as obras de arte. Cada vez mais está presente o elemento tecnológico nas obras e instalações da mostra, que ocorre em Porto Alegre. Com a tecnologia, o que transparece também é a maior interatividade do público com os trabalhos dos artistas.
A obra/instalação/projeto "Estar", do Grupo Corpos Informáticos, é um exemplo.
No trabalho exposto na Usina do Gasômetro, uma simples sala de estar, com revistas, mesas de café, é um convite à interação e à reflexão dos espaços privados e públicos. Três computadores possibilitam ao visitante utilizar um programa de chat com webcam. As telas dos computadores são então projetadas na parede, criando "uma casa interativa”, como afirma Liliane Araújo, estudante de informática e integrante da equipe de apoio da instalação. Ela informa que as conversas feitas nas salas serão armazenadas em um banco de dados.
Corpos Informáticos é um grupo de pesquisa encabeçado pela professora Bia Medeiros, na UnB (Universidade de Brasília). O grupo vem desenvolvendo desde 1992 trabalhos teóricos e práticos visando confrontar corpo humano e tecnologias.
Outra obra na Usina que pede a interação é o projeto "8=8 - e-Spacio Liberado", do chileno Gonzalo Mezza. A imagem de uma espiral é projetada em uma parede, fazendo uma referência direta ao ADN, porém com códigos binários no canto da figura. Em outra parede, fotografias de visitantes, enviadas através de um telefone móvel, são mostradas.
Mezza é conhecido por fazer instalações desse tipo, em que a reflexão artística está ligada com a questão tecnológica, com a criação e a interação. A "oitava arte", conceito disseminado por Mezza, é aquela que utiliza os suportes que permitem "preservar e materializar o pensamento e a criação em estado numérico de zeros e uns", como afirma o artista em seu website. Para ele, a oitava arte é a vanguarda num mundo em que um segmento da humanidade funciona "em redes digitais através da web".
Será, então, que a tecnologia absorverá todos os âmbitos da arte? E a interação será a característica predominante? Bia Medeiros, por e-mail, responde que a tecnologia será mais uma linguagem da arte, entre tantas. E quanto à interatividade, ela esclarece:
"A interatividade sempre foi própria da arte. Quando tu vês um quadro que te toca, ele te toca = ele te modifica, logo é interativo também. É uma outra interatividade." E completa que o espectador é agora um "interator", podendo interferir e até mesmo tornar-se a própria obra-de-arte.
Fontes
- Gonzalo Mezza. Projeto Informacion Liberada — The Virtual Web Gallery MEZZA, 18 de outubro de 2005